Translate (tradução)

quinta-feira, março 14, 2024

VISITA GUIADA À RÁDIO MOÇAMBIQUE


Em companhia do Ouri Pota Chapata Pacamutondo, Director do Centro de Formação da Rádio Moçambique, visitei, a 04.03 24, a RM. 
Como quem quer conhecer a rádio em toda a sua dimensão, comecei pelo que chamam de "fitateca", arquivo áudio das primeiras emissões de Rádio em Mocambique [1933], discursos e outros registos relevantes. Inicialmente, os registos eram feitos em Vinil, depois em bobines, mais tarde em kassetes, disquetes, mini-disc, CD, etc.

_ Chamamos essa área de "fitateca" (fica no rés-de chão do edifício de seis andares) por causa das fitas agui conservadas (bobines e kassetes) _ Começou por explicar o cicerone Ouri Pota.

Hoje, os registos são feitos em Hard Disc. O desafio de todos os tempos tem sido a conversão de audios de um suporte em desuso para o outro emergente e a inoperância de alguns equipamentos de leitura. 

_ É um trabalho que não pára, pois tem de se acompanhar a evolução tecnilógica. _ Disse-nos Laurentino da Silva, o responsável pela "audioteca", também ele considerado "uma biblioteca da fitateca" da Rádio Moçambique, dado o conhecimento acumulado sobre a área e a rapidez com que é capaz de localizar um registo sonoro histórico.

Como que a buscar a consonância entre as explicações que dava e a demonstração prática em como se localizam "as fitas" mais antigas, provoquei-o a localizar a kassete com o discurso proferido pelo Presidente Samora Machel quando, a 25 de Junho de 1975, proclamou a independência de Moçambique. Laurentino, que interrompera o seu café à nossa chegada desavisada, fê-lo num abrir e fechar de olhos como se tivesse um detector de kassetes entre os dedos.

Depois, visitei a discoteca que conserva músicas de todas as idades (desde os anos 30 do séc. XX aos dias que correm), nos mais distintos suportes, tal como a audioteca/fitoteca. A discoteca da RM está em rede, permitindo o acesso rápido por parte dos realizadores de programas e locutores. 

_ Já não precisam de fazer requisições prévias como antes, acontecendo apenas em casos de músicas que não estejam na rede. Quando recebemos uma requisição, fazemos uma transcrição imediata e colocamos a música ao dispor da Rádio. _ Explicou Porfírio Mathe.

Muitas músicas antigas foram convertidas em suporte digital e outras estão ainda por converter. Em ambos os casos, "é uma luta contínua", asseverou Porfírio, um dos técnicos da Discoteca que teve a amabilidade de fazer as honras da casa.

A rádio, porém, e todo o seu edifício tecnológico, não são apenas pessoas, voz, sons e silêncios. A componente técnica para que o som produzido seja emitido em ondas hertezianas e captado pelos receptores, há uma sala chamada de Central Técnica. Na Rádio Moçambique, é responsável pela recepção e emissão dos 4 canais produzidos em Maputo-Cidade (Antena Nacional, Antena Internacional, Rádio Cidade e Rádio Desporto), assim como pela recepção e retransmissão do sinal das dez emissoras provinciais (Cabo Delgado, Gaza, Inhambane, Manica, Maputo-província, Nampula, Niassa, Sofala, Tete e Zambézia) ao que se adiciona o sinal da Emissora Provincial de Maputo (há distinção entre Maputo Cidade Capital de Moçambique e Maputo Província).

_ Aqui é o coração da Rádio. _ Ouvi do responsável da CT, _ acrescentando que é lá que se confirmava a concretização da comunicação radiofónica.

Seguimos à Radio Cidade, congénere da Rádio Luanda, onde o meu anfitrião Ouri Pota fez carreira até passar à gestão. 
Encontrámos o jovem Hélder Mendes, animador de cabine por excelência e que tem uma grande audiência. A cabine é "auto-operada" e o locutor conversa com os radio-ouvintes sem a intervenção do técnico de som/sonorizador.

_ É uma forma de conferir melhor à vontade ao locutor e o patrão poupar dinheiro com menos pessoas, explicou, enquanto pousávamos para a foto. 

A Antena Nacional (congénere de Canal A da RNA) e a Rádio Desportiva (hómóloga da Radio 5, com que "há um grande intercâmbio", no dizer dos moçambicanos) seriam os pontos seguintes.

Já na Rádio Desporto, depois de visitar os estúdios, fui convidado para "dois dedos de conversa" com a simpática jornalista Natércia Tomás, cuja voz, doce e melódica, muito se difere do comum sotaque moçambicano. A jovem parecia uma "tuguesa" pintada de negro com um sorriso escaldante a fazer parelha ao humor com que cativa os ouvintes e amantes da narração desportiva.

No final, Natércia pediu que sugerisse uma música para ser tocada como "oferta" do visitante angolano aos que nos ouviam naquele momento, perto de 10 horas da manhã de segunda-feira,  04.03.24. Apanhado por um "remate à queima roupa" a minha escolha recaíu, exactamente, à queta "A luta continua" (para vencer o subdesenvolvimento) de Mirian Makeba.

Lá e cá "a luta continua"!

Terminámos a visita no Centro de Formação da Rádio Moçambique que, para além de atender às necessidades de formação/superação interna dos quadros, está também vocacionado a atender demandas externas como mestres de cerimónia, apresentação de discursos, jornalismo digital entre outros. Saimon kabwé era o jornalista, descrito como ums dos melhores noticiaristas da Rádio Mocambique e partilhava a sua experiência xom meia dúzia de jovens candidatos a jornalistas com que tivemos a oportunidade de teocar algumas palavras.

_ Tal como em Angola, o jornalismo é uma profissão séria, de extrema importância social, insubstituível e que confere reputação. Embora não permita ao executante ser tornar-se rico no exercício simplesmente do jornalismo, confere ao profissional sério e comprometido uma grande reputação e abertura para outros voos. É incompatível com a trocas de favores e "mola" debaixo do tapete. _ Partilhei no minuto (de fama) que me foi concedido.
Conheço alguma rádio angolana melhor do que a nacional moçambicana? 
- A resposta é óbvia. Só a minúscula LAC onde "militei" de Dezembro de 1996 a Março de 2006.

sexta-feira, março 08, 2024

MOTIVOS MIL PARA UMA FUBADA

Na banda não faltam motivos para organizar uma fubada como as que acontecem nos aposentos do ancião Salas Neto, no Distrito do Rangel, apimentadas de crónicas e outras chaladices, ou no apartamento kilambístico do  kota Lauriano Tchoia, acondutadas de suculentas codornas.


Na estranja, o esforço para encontrar uma bilada é maior. As opções sempre exíguas, vão para a papa dura (feita de farinha grossa de milho) oferecida pelo Marcos African Food ou é ao puré de batata que nunca se aproximam ao nosso pirão ou funji de bombó, podendo ainda variar para o misto, sempre a condimentados com largas postas de peixe do Atlântico Equatorial fartas verduras nascidas e crescidas ao sol resoluto.

Uma boa fubada, apomadada com castas do Bero ou Xixila, dá azo a prolongadas tertúlias e  vozes que se elevam com o tempo de duração do repasto. 

Aqui (na estranja), no silêncio e pacificidade de Sea Point, (satélite de Cape Town) apenas os beggars (tidos como "malucos"), os carros, as motos noctívagas, os ventos e a fome falam alto. Vezeira, a fome vem de tempo em tempo, carregando, quase sempre a vontade de embrulhar uma boa fubada para contornar os sweet food destas terras.

_ Atenção! António, Lau, Afelino, preparem-se, estou a chegar. Amanhã quero-vos no meu apartamento e vamos fazer uma bilada! _ Anunciei, antes mesmo de saber se encontraria utensílios. 

Não houve resitência, afinal, a chegada de nais um mwangolê seria motivo para pôr conversas em dia, reflectindo sobre e vida de cá e as malambas de lá.


_ É só avisares a hora e as incumbências que lá estarei. _ Responderam um a um.

Dia D. A fome madrugadora, talvés incentivada pela combina da bilada, gritava mais alto do que os negros beggers que se achavam lyambados nas ruas "brancas" de Sea Point. 


O low shielding seria entre o meio-dia e as duas da tarde. Apressámo-nos nos preparativos. Melhor, o Lau cuidou de confeccionar o kalulu que o Star jura de pés juntos ter sido "inventado em Kalulu", assim como "o bolo vem do Lubolu". O Adelino cuidou das pomadas e o Oldest António ficou a moderar os excessos vocais, quando a pomada começou a fazer efeito.


Assim foi a primeira bilada. Uma fubada mista que só não recebeu estrondosas palmas de gratidão dos estômagos por estes terem a natureza de pedintes insaciáveis.

No fim-de-semana seguinte, foi a vez do Lau organizar a fubada.

_ Kotas, desta vez o conduto serão carnes assadas e, como temos assador no quintal, será lá nos meus aposentos. Preparem só as pomadas. _ Recomendou, fazendo-nos aparecer religiosamente ao meio-dia.

_ Haverá duas sem três?

O Adelino assumiria a terceira semana consecutiva. Desta vez, o Star prometeu levar sardinhas tugas para o início de conversa. Uma caixa de castas nacionais foi "raptada" pelo caminho e abatida com sucesso, dando cor ao frango e kabwenya tuguesa, levando a conversas que se prolongariam até à ultima gota, o último espinho e à derradeira ossada.

Mas, que tal se a fome e a vontade de embrulhar uma funjada chegam num dia de semana em que não dá jeito para reunir a equipa?

A solução é bikular a solo. Afinal, em casa ou na estranja, com amigos ou alone, ĥá sempre um motivo para uma fubada. Se bem regada, melhor!

sexta-feira, março 01, 2024

"FILHOS" QUE LADRAM

"FILHOS" QUE LADRAM

A forma como os governos dos países olham para as necessidades populacionais influencia o comportamento generalizado da sociedade. Nisso, para a formatação de uma visão e consciência colectivas da sociedade,  os meios de difusão massiva (MDM) e, nos tempos que correm, os multimedia exercem um papel fundamental.

Saídos da devastadora II Guerra Mundial (1939-45), que deixou um rasto de milhares de mortos e inválidos, os Estados vencedores e perdedores da Guerra, assim como suas colónias investiram milhares de dólares na comunicação de massa, incutindo nos jovens a beleza do convívio familiar (um pai, uma mãe e filhos). Tal resultou,  obviamente, no reforço da sacralização do casamento e da família, tendo como consequência o "baby boom" dos anos cinquenta e sucedâneos.

Veio, a seguir, a produção virada para o consumo intensivo, o mercantilismo, o despesismo, o bem-estar e outras comodidades indispensáveis deste tempo. As televisões abraçaram a ideia basilar que lhes foi "vendida" e distribuíram-na aos jovens que vêem o casamento e a família como empecilho ao carreirismo, ao bem-estar material e ao lazer.

Caminhando pela marginal de Sea Point (Cape Town), observo, algo intrigado,  a presença de muitos cães (perde-se no número, raças e tamanhos dos canídeos exibidos) a fazer companhia a singulares e aos poucos casais que se apresentam no "calcadão" que percorre a marginal. O que menos se vêem são as amáveis e doces crianças pronunciando os nomes de seus progenitores e ou de seus "frateres".

Ao saber que muitos deles são turistas que viajaram de seus países com tais animais de estimação, transportados sob cuidados muito especiais e em situações muitas vezes delicadas, sendo muito mais complexos de cuidar do que um filho, uma intrigante pergunta me persegue: mais vale a essas damas e cavalheiros um "filho" que ladra ou um nenê que chora quando calha?

Seguir o exemplo dos idosos que caminham de mãos dadas seria o mais expectável,  mesmo quando estes se fazem acompanhar de um cachorro que vai no lugar do neto que lhes foi negado pelo(s) filho(s). Um dia, a carreira terá fim. As pessoas trabalham de forma intensa, abnegada e chega a reforma. Os cães têm vida curta e cada cão é mesmo um cão. Há de haver com quem conversar, trocar experiências e desfrutar juntos à mesa de um restaurante ou viajar coladinhos nos assentos de um avião. Com certeza que não será um "bobi".

Cada país é como uma família inteligente. Busca o que lhe falta e serve-se dos meios de persuasão para incutir comportamentos psicológicos colectivos. Sem me rever nos que defendem a reprodução massiva, mesmo quando incompatível com a produção de bens de subsistência e renda, sou pela família e pelo crescimento populacional moderado, cujo efectivo, quando adulto, atenda as necessidades produtivas do país e o equilíbrio das contas públicas que suportem o pagamento de uma pensão adequada aos reformados.

Para que tal aconteça, é preciso tomar-se uma decisão e unir esforços em direcção ao desiderato traçado. Os MDM devem seguir a linha mestra, mostrando o lado bom do caminho escolhido por quem nos governa. Vamos dar primazia aos filhos ou aos animais de estimação?

O Japão e outros Estados que registam taxas de fecundidade abaixo de 2 filhos por mulher já pedem mais nenês do que cães.


quarta-feira, fevereiro 28, 2024

A ESTUDAR TAMBÉM SE FAZ DIPLOMACIA


A irreversível transformação do mundo em aldeia global, onde todos se "encontram" e relacionam leva os homens, independentemente de suas culturas e crenças, a reconfigurar seus códigos, sujeitar-se à aculturação global e adoptarem condutas e meios de comunicação que os tornem em cidadãos do mundo.

Assim é que nas ciências, tecnologias e negócios globais/transversais, algumas línguas se sobrepõem às outras. É hoje imperioso, para se ser cidadão desta aldeia global, que se domine a "língua das hi-tec e do comércio mundial", o Inglês. Nesse quesito, um dos destinos para angolanos, moçambicanos, congoleses, sauditas, líbios, tunisinos, franceses, brasileiros, germânicos e tantos outros tem sido a África do Sul.

Na LaL, uma das escolas que mais acolhe angolanos, a aula de 16 de Fevereiro teve dois momentos eleitos à partilha com os meus leitores.

O primeiro foi um texto, seguido de reflexão interpretativa, morto-sintáctica, e argumentativa sobre um apelo do Primeiro-ministro japonês que, preocupado com o "excesso de carreirismo e sono" que têm levado à diminuição da população na ordem de 30%, lançou um veemente apelo à procriação, tendo terminando a "homilia" com o a frase "vão para casa e façam filhos", frase que os nipónicos entenderam como ofensiva.

Seguiram-se perguntas, argumentos e contra-argumentos sobre "se os governos devem intervir no controle da população (seja para aumentá-la ou para conter o seu crescimento) ou se deve ser uma decisão pessoal/do casal.

Quando chamados a compulsar as taxas de fecundidade nos países de origem, notamos que Angola era o único país com uma taixa acima de meia dezena entre sul-africanos, franceses, sauditas e brasileiros.

_ Uf! In your contry couples work hard. _ Atirou a brincar o Ahmed, um jovem saudita dado a saídas sarcásticas, ao mesmo tempo que discordava dos dados apresentados pelo Google em relação à natalidade no seu país. 

Arguciava ele que "não concordava porque muitos homens têm mais do que duas famílias, tendo cada esposa de três a seis filhos".

_ You must review your country's data. _ Dei-lhe o troco.

Sobre a taxa de fertilidade (número de filhos por mulher) e sobre a possível interferência ou não dos governos para manter os equilíbrios demográficos e económicos, discutiu-se o suficiente e cada tirou as suas conclusões. É um debate ao qual você está instado a participar e agir.

O segundo momento da aula de inglês que, naturalmente, acompanhou o primeiro momento, foi a apresentação de bebidas típicas de cada país.

Criativos e orgulhosos de sua pátria e cultura, os quatro angolanos, em que me incluo, decidiram, sob patrocínio do articulista, levar mais do que a solicitada bebida típica. As duas jovens (Alaíde e Jacira) foram à street market (uma espécie de São Paulo, em Luanda) e compraram banana-pão, múcua, ovos, jinguba e batata-doce que transformaram em kitutes que "regaram", de forma muito concorrida e com direito a sobras, as três horas e meia de aula.

Afinal, diz um ditado secular, "no aproveitar está o ganho". Os angolanos souberam mostrar a cozinha típica e fizeram, igualmente,  diplomacia.

Até à próxima!

=

Publicado no Jornal de Angola de 25.02.24

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

KITOTAS NO CABO

Já levamos já 14 anos, o mesmo tempo que durou a Luta Armanda para a Independência de Angola, a publicar livros. Da lavra de nove, apenas um distanciou-se da ficção, sendo relatos de factos vividos.

"Kitotas: recuos e avanços", o último, tem sido dos mais comentados. A distribuição é comedida (estamos a kanjonjar para não acabar cedo, enquanto não se reúnem condições para reedição). 

Portanto, "Kitotas: recuos e avanços" já está a ser apreciado pela cônsul de Angola na Cidade do Cabo, Elsa Vicente, que pediu mais livros do autor Soberano Kanyanga para os colocar ao dispor dos nacionais que procuram por serviços consulares.

Agradeço e vamos cumprir.


quinta-feira, fevereiro 15, 2024

CABO: DE 150 ESCRAVOS A 25 MIL RESIDENTES

Chegados à costa atlântica do que é hoje Angola em 1482, os portugueses viram-se no Século XVII confrontados com a presença holandesa, cuja "companhia ultramarina" explorava já as Índias Orientais. Assim, os holandeses estiveram em Angola durante os séculos XVII e XVIII na região costeira, incluindo Luanda e Benguela, com o objectivo de participar do comércio de escravos e de outros recursos naturais.

Viriam a ser expulsos de Angola pelos portugueses que pediram reforço da sua então colónia do Atlântico Oeste. Durante o século XVII, Portugal e os Países Baixos estavam em conflito global e os portugueses conseguiram expulsar os holandeses de várias colônias, incluindo Angola, reafirmando o controle português sobre a região até o século XX (1975).
Foi, porém, no período em que os holandeses se fizeram "passear" impunes que levaram os primeiros escravos angolanos ao Cabo de Boa Esperança, na actual África do Sul, por volta de 1658. Estima-se que tenham sido 150 indivíduos levados em caravelas.

Aportados no Cabo da Boa Esperança em 1652, os holandeses tiveram como objectivo inicial estabelecer um posto de abastecimento ao longo da rota marítima para as Índias Orientais. Um ponto estratégico de paragem onde pudessem reabastecer as suas embarcações com água, comida fresca, lenha edemais suprimentos antes de continuarem as sua viagens para o leste, em direção às ricas colônias nas Índias Orientais, e destas para a Europa afigurava-se primordial. Portanto, o Cabo surge como um entreposto para reabastecimento, descanso e cura dos "incapazes" de prosseguir as viagens. Só que tal empreitada demandava homens sadios e a "preço de banana".
A primeira horta estabelecida pelos holandeses no Cabo da Boa Esperança foi chamada de "Company's Garden" (Jardim da Companhia), estabelecido em 1652 pelos colonizadores holandeses da Companhia Holandesa das Índias Orientais para fornecer alimentos frescos e vegetais para as tripulações de seus navios. É hoje um ponto turístico na Cidade do Cabo.
Embora alguns confundam o Company's Garden e com o Kirstenbosch, são duas áreas distintas na Cidade do Cabo. O Kirstenbosch é um jardim botânico localizado na encosta leste da Table Mountain, na mesma cidade, sendo famoso por sua coleção diversificada de plantas nativas da África do Sul, bem como por suas trilhas naturais e paisagens deslumbrantes.
Voltando à História, a colônia do Cabo viria, entretanto, a ser anexada pelos britânicos em 1806, durante as Guerras Napoleônicas, até que se dá a proclamação da União Sul-Africana, a 31 de Maio de 1910, pelo então primeiro-ministro Louis Botha, líder do Partido Nacionalista, após a unificação das colônias britânicas do Cabo, Natal, Estado Livre de Orange e Transvaal.
Alguma literatura aponta esse marco (1910) como "independência", visto que era uma entidade autónoma dentro do Império Britânico. No entanto, a União Sul-Africana de 1910 dependia politicamente do Reino Unido que exercia uma influência significativa sobre os assuntos políticos e económicos do território.
A candeia, para uns poucos, viria a acender em 1961, ano em que o país se tornou uma república, deixando a Comunidade Britânica. Aqui, sim, tornou-se república (branca) independente pondo, igualmente, fim à monarquia constitucional na África do Sul e a remoção do status de domínio britânico.
É importante recordar que o apartheid foi instituído oficialmente na África do Sul em 1948, quando o Partido Nacional venceu as eleições nacionais e começou a implementar políticas de segregação racial e discriminação institucionalizada. Essas políticas foram formalizadas através de uma série de leis que restringiam os direitos e liberdades dos não-brancos no país. Portando, foi ainda no período de influência do Reino Unido.
A verdadeira independência festejada pela maioria dos sul-africanos, a que se incluem os milhares de descendentes dos escravos angolanos, é a proclamada em 1994, depois da tomada de posse de Nelson Mandela, primeiro presidente negro, num país que se tornou de direito multi-racial.
Outra curiosidade sobre a África do Sul tem a ver com o nome "Natal" que tem origem portuguesa. A região foi assim chamada pelos exploradores portugueses que lá chegaram em 1497, liderados por Vasco da Gama, devido ao facto de terem alcançado a costa no dia de Natal (25 de Dezembro).
Quanto ao Kwazulu, é uma expressão zulu que significa terra dos zulu ou "zululândia".
De um contingente inicial estimado em 150 escravos angolanos transportados em 3 caravelas (Março de 1658), contam-se hoje milhares de angolanos residentes na África do Sul, estando estimados pelo consultado angolano na Cidade de Cabo, só nas 3 províncias do Cabo (Cabo Ocidental, Cabo Oriental, Cabo Setentrional), perto de 25 mil mwangolés, segundo estimativas do Consulado Angolano na Cidade do Cabo (Fev24).

quinta-feira, fevereiro 08, 2024

A "FESTA" DOS CONVIDADOS DA NJAMBA

Na guerra civil angolana, que se seguiu à independência, cada Movimento de Libertação Nacional teve o seu convidado para o ajudar. 

O Governo do MPLA, atacado a norte pelo exército zairense de Mobutu e mercenários convidados pela Fené, e no Sul atacado pelos racistas da África do Sul, compadres e convidados dos kwachas,  teve de pedir apoio a Fidel Castro para manter o país independente e uno.

Foi difícil travar os invasores, procedentes do norte e sul, fortemente armados e sedentos de sangue e poder, que procuravam destruir todos os "vasos capilares" do país nascente. Edifícios administrativos e residenciais, pontes, ferrovias, fábricas, etc., nada foi poupado.

Os escombros de edifício (foto 1) mostram-nos o que foi antigo Palácio herdado em 1975. Os "convidados dos kwachas" deixaram-no nesse estado, depois de vários bombardeamentos aéreos e de artilharia. Já em tempos de paz, foi construída no local em se acham os escombros a nova Sede do Governo do Kunene (inaugurada em 2017), tendo sido conservados os escombros para contar a história que muitos jovens ignoram e cujas páginas muitos mais velhos pulam deliberadamente.

A segunda foto, mostra a nova Sé Catedral de Ondjiva. Obriga-nos a verdade dizer que a antiga igreja não tinha sido derrubada como foi o Palácio e as demais edificações da então cidade de Ondjiva que foi transformada em "terreno baldio". A igreja esteve, porém, tão estropiada que o Governo Angolano decidiu oferecer à católica uma nova Catedral, digna da Ondjiva que se está a (re)construir dos escombros deixados pelas tenebrosas South African Air Force (SAF) e seus apaniguados e anfitriões da Njamba.

Uns, ruidosos ou silenciosos, virão dizer-me "não desenterre o morto". 

A minha colocação é: que tivessem dito aos vossos convidados para preservarem os edifícios. É que até o cinema "foi para o maneta". Partiram-no desgraçadamente!

quinta-feira, fevereiro 01, 2024

ONDJIVA AOS MEUS OLHOS

A minha primeira vez em Ondjiva foi em 1999. Era Primeiro-ministro de Angola o Dr. França Van-Dúnem e eu actuava ainda como jornalista da LAC - Luanda Antena Comercial.
A missão consistia, dentre outros objectivos, em visitar o matadouro da Kahama, constatar o problema da falta de água em Ondjiva e a questão da energia procedente da Namíbia, cuja factura, dizia-se, "estava alta e a Nampower ameaçava desligar o disjuntor para a capital do Kunene". Também fomos ver a (re)construção da ponte sobre o Kunene e visitámos o memorial do Rei Mandume ya Ndemufayo, em Ohyole, município de Namakunde.
O avião que levara o Primeiro-ministro partiu antes do que levara os jornalistas e teve como local de poiso o aeroporto de Xangongo. De lá para Kahama, França Van-Dúnem e staff foram de carro. Os jornalistas e pessoal de apoio do PM viajaram num "Twin Otter", numa viagem de mais de 3 horas, com reabastecimento no Lubango, e poisou em Kahama, onde a pista que serviu as FAPLA e FARC (Forças Armadas Revolucionárias de Cuba) na luta contra os racistas sul-africanos servia de "local de repouso dos bovinos que abundam na região.
De Kahama a Xangongo fomos todos em viaturas e aglutinámo-nos no avião maior, o que transportou o Primeiro-Ministro. Já na "cidade" capital, totalmente arrasada, lembro-me da Vila Okapale, local em que dormitámos todos e em que nos foi servido um competente e bem regado repasto.
Vinte e cinco anos depois, voltei a Ondjiva e custou-me reconhecer a cidade que foi "totalmente" construída sobre o nada e restos de escombros de edifícios arrasados pela aviação da Africa do Sul racista nas incursões ao nosso território nos anos setenta e oitenta do Século XX. Andando por Ondjiva contam-se os sobrados do período colonial.
No local onde se acha hoje a sede do Governo existiu o Palácio herdado em 1975. Estão lá conservados os escombros para contar a história das invasões e bombardeamentos das SAF (South Africa Air Force) ao tempo do apartheid. A Igreja católica, nova, imponente e paralela ao Governo do Cunene, foi também construída pelo Governo, no terreno em que se achava a antiga catedral (embora tivesse sido ligeiramente poupada) a velha e estropiada.

Na mesma rua, a principal da cidade, acham-se, à direita, o antigo palácio (construído depois da destruição daquele herdado na independência) e um outro palácio, maior, novo e digno desse designativo. Perfila paralelo ao largo Mandume ya Ndemufayo, também novo e integrado numa série de obras (várias) erguidas pelo Governo Central para reatribuir dignidade de cidade capital ao que restava apenas o nome. Mais abaixo, no sentido aeroporto-centro está o edifício da cultura, novo e majestoso, juntando-se-lhe a Mediateca e outras serventias como a Centralidade de Ondjiva que é hoje, diga-se, uma cidade encantadora!

Publicado no Jornal de Angola de 04.02.24

segunda-feira, janeiro 29, 2024

MENTIRINHAS DE JOÃO E CONSELHOS DE JESUS

Um dos edifícios que conta a história do Kwitu, depois da guerra pós-eleitoral, dizem ser a Catedral da Paz, templo da Igreja Evangélica Congregacional de Angola, construído pelos crentes citadinos depois do cerco à cidade. Aqui cultuaram e continuam a cultuar dirigentes inesquecíveis como Sabino Salongue, Jão Marcos Bango, Celita Adolfo, Samuel Catumbela, Alice Kakeke (de feliz memória), Isabel Changuendela, Cândida Celeste, entre tantos outros. A lista é grande e estende-se aos filhos, netos e outros evangelizados todos os dias.

Mas é sobre o João, um menino engraxador do Kwitu, e seus amigos Miguel e Kasoko que vos conto.

Encontrei-os à entrada de uma unidade hoteleira que dá de caras com a Catedral da Paz. O João, o mais expedito, mal viu o carro parar, endireitou a cara, fazendo uma de coitado e faminto, seguido de um sinal pedinte.

_ Me dá lá só kapão, faxavori! _ Terá soltado. Algo assim.

Apreciei as suas vestes e o cabelo pintado.

_ Porra! Maltrapilho e cabelo pintado, deve ser um pequeno grego. _ Ensaiei sem o soltar. 

Fiz resistência em baixar o vidro lateral e decidi mesmo não atendê-lo.

Esperto (isso mesmo), o rapaz que vim a descobrir que responde por João, cônscio de que a sua artimanha tinha caído ao ralo, olhou para o lado oposto e meteu-se a assobiar. Talvez recitando uma música ou um hino da "nembele" IECA, o que tocou a sensibilidade do meu companheiro de viagem.

_ Camarada Matoumorro, o rapaz convenceu-me. Vou dar-lhe uma moeda. _Disse-me o camarada Jesus Cortex, sacando duas notas de Kz 200 que dividiu aos três: uma para o artista de cabelo louro e outra para o Miguel e Kasoko que são irmãos.

Estacionada a viatura, eis que os rapazes reapareceram.

_ Pai, vêm engraxar sapatos. _ Chamaram em coro.

Dividimos-nos. Eu dirigi-me ao João e o camarada Jesus ao Miguel a quem soltamos conversas sobre a importância de frequentar a escola, mesmo ajudando os pais com menos poder para sustentar satisfatoriamente os filhos.

_ Ó  meninos, o quê que fazem com o dinheiro?

_ Nós ajudamos a mamã. Engraxamos, eu e o meu irmão, e damos o dinheiro à mamã. _ Respondeu o Miguel, demonstrando inteligência.

Acrescentou que a caixa do seu irmão havia sido roubada e estavam a trabalhar com apenas uma, a ver se a mamã juntava o dinheiro que fazem para mandar ao carpinteiro confeccionar mais uma caixa de engraxador. Ficamos comovidos.

_ Vocês estudam? _ Indaguei. Fazia-o sempre no plural.

_ Eu estudo, a quarta classe. _ Respondeu o Miguel.

_ Eu estudo a sexta. _ Complementou o Kasoko, o irmão mais velho do Miguel.

_ E tu João?

_ Eu também.

O João era o mais vivido. Noutro tempo, dir-se-ia o mais espertinho. Tinha argumentos para tudo. Era resoluto e um pouco ameaçador em relação aos outros. Chegámos a cogitar que no tempo das kitotas seria, no mínimo, um sargento, fosse  num exército ou numa milícia.

_ Mas, ó João, tu com cabelo pintado entras na escola? O professor deixa-te entrar?

Os amigos, sabendo que ele estava a faltar à verdade, começaram a rir-se dele.

_ Estás a rir o quê, sô burro? Ó pai, eu estudo. Podemos ir na minha casa para tirar certeza com a minha mãe. _ Desafiou-os.

_ Ok. Não precisas de te exaltares. Vamos lá. Que classe então estudas e a que hora vais à escola? _ Amenizei.

- Ó pai, eu estudo de manhã, mas hoje não fui porque não tem sabão para lavar a minha bata.

Os dois amigos riram-se novamente das suas invencionices, elevando novamente os seus nervos aos píncaros.

_ Vamos então na minha escola para tirar certeza. Vamos. Ó Miguê, você assim já está a gozar demais. Vamos na minha escola.

_João, acalma-te, filho! Diz-nos quem é a tua professora?

_É professora Maria! Ó pai, esse burro fala à toa. Ele é que não estuda. A vida dele é só pedir dinheiro nos mais velhos. _ Acusou o João ao Miguel que parecia de sua idade. O Kasoko, que disse estudar a sexta classe, parecia dois ou três anos mais velho e era quem menos falava. Era o que estava sem caixa de engraxador.

Nisso, os dois irmãos que frequentavam a escola começaram a ler os placas de identificação das lojas e demais sinalética, desafiando o João a fazê-lo também. Apontaram para um atelier e desafiaram-no.

_Ó pai, vamos tirar as provas. João, se estudas ainda lê ali.

Encurralado, o João inventou que não lia à distância.

_ Ali em cima não vejo bem, mas nas letras de baixo está escrito arfaiate.

Foi a prova de que era apenas um menino esperto, mentiroso e não alfabetizado. 

O camarada Jesus, tal como o seu homónimo nascido na pequena cidade de Belém da Judeia, pegou a mão do João e levou-o para uma catequese, daquelas que um menino com todo o futuro ainda pela frente precisa de ouvir. No final, deu-lhe mais uns trocados.

_Quando voltarmos ao Kwitu quero encontrar-te a estudar. _ Recomendou Cortex, esperando que João cumpra o conselho de Jesus.


Publicado pelo Jornal de Angola do dia 11.02.24

segunda-feira, janeiro 22, 2024

KITOTAS NO LUVILI

Rodé e Laura, no Luvili, são mães vendedeiras. Os filhos são ainda pequenos, mas têm os irmãos e outros parentes, infantes e adolescentes, a vender produtos agrícolas e sacaria à beira da estrada que liga o Wambu ao Kwanza ao Sul. 

A beleza do monolítico estendido na sua grandeza aos olhos e a expressividade da praça rural em que se expõem ao automobilista e passageiros produtos do campo, como cebola, alho, tomate, abacates, kapungu-pungu, milho, cenouras, mel, banana, rabanete, pimentos, mangas, etecetera, quase forçam a paragem até dos mais apressados.

_ Esses meninos não estudam? _ Indaguei preocupado com o número de crianças vendedeiras em dia e horário escolar.

Um dos rapazes que cantarolava buscando frequeses tentou mesmo ludibriar-me.

_ Tio, eu fui de manhã à escola e vendo à tarde para ajudar os meus pais. 

A um desatento, sua alocução parecia carregada de razão. Passei a mão sobre o cabelo dele, em jeito de carinho, e notei que há muitas semanas não recebia a visita de um pente, nem mesmo uma lavagem cuidada.

_ Ó filho, não mente! Se tivesses ido à escola o teu cabelo estaria limpo e ainda penteado, pois o professor não deixa entrar assim na sala de aulas. Ou é mentira? _ Atirei ao julgamento popular.

_ É verdade! _ Responderam as manas, assim como os seus comparsas.

Dito isso, o rapaz recolheu-se e fez-se desaparecer na multidão, indo apregoar o "ó pai, me compra lá só manga" em outra freguesia.

As duas manas (na aldeia quem nasce primeiro é mano) tentaram, ainda, sair em sua defesa.

_ Ó pai, esse tempo, você pode estudar muito, sê padrinho na cozinha, você noé nada e nó vai a quarquer lugar".

Abri o livro da minha vida, desde tenra idade no Lubolu. Mostrei-lhes imagens reais (no telefone) do sítio em que nasci e imagens gravadas na memória, nunca levadas a texto. Preguei sobre o quanto a escola, mesmo sem padrinhos e tios, me levou aos areópagos lubolenses.

_ Minhas filhas, sem padrinhos também se pode ser grande. Por outra, o padrinho na cozinha pode aparecer lá em frente, mas se você não souber comer, para nada valerá. Mandem sempre os vossos filhos à escola pois também poderão ser administradores e governadores do Wambu.

Informadas e sentindo-se convencidas, pediram-me uma foto para perpectuar o momento. Fui ao carro pegar um livro que conta parte de minhas peripécias e deixei-as a ler Kitotas: recuos e avanços.


Publicado no Jornal de Angola, 18.02.24

terça-feira, janeiro 16, 2024

UM MIRAGE* SOBRE A GRUTA

 

O grupo de reconhecimento profundo tinha progredido no terreno durante o dia todo, entre atalhos, selva densa, asfalto e picadas. Tudo devia ser feito em segurança e máxima discrição para não serem vistos nem pela composição de três aparelhos circulantes, nem por eventuais sinais deixados na natureza como poeira e fumo. 

A chuva, fugida de Luanda e instalada permanentemente no Kwandu nyi Kuvangu,  revezava-se com curtos instantes de sol intenso que magoava as lentes oculares, tornando lenta a marcha que foi completada após penosas 14 horas. Paragem para abastecimento Logístico houve apenas uma durando não mais do que hora e pico.

Cansados, mas confortados pelo sucesso da parcela da missão, o grupo liderado pelo Comandante Jesus Cortex, teve outros desafios no terreno. Era preciso separar os integrantes em dois subgrupos e encontrar abrigos seguros para pernoitar que não denunciassem a presença deles nas margens do Rio Kwebe.

Conhecedor da área, o Brigadeiro Cortex e o seu Estado-Maior, Major Buta, isolaram-se dos demais e estudaram minuciosamente o mapa topográfico da região. Analisaram, perante os olhos e ouvidos atentos do especialista em comunicação, as possíveis vulnerabilidades para intrusões e saídas inimigas, assim como as zonas de maior opacidade à penetração terrestre e observação aérea. 

Havia uma kamunda com rochedos e uma gruta que podia servir de abrigo durante a noite.  Um único desfiladeiro aberto por animais e caçadors conduzia ao local que atenderia os três dormitórios. Minas defensivas foram plantadas a 150, 100 e 50 metros no desfiladeiro para prevenir uma eventual penetração inimiga.

Encontrado o local, desfizeram as mochilas para retirar os mantimentos. Apenas parte delas. Era preciso atender o estómago que reclamava ração fria. Não foguearam.

_ Fazer fogo é dizer estamos aqui. _ Preveniu o Estado-Maior.

O Capitão Matoumorro, "Radista" como é conhecido entre os pares, encostado em um penhasco, conferia as mensagens recebidas do Comando Central e as repassava aos colegas, depois de devidamente descodificadas e filtradas.

_ Apenas as essenciais para a nossa missão. _ Alertou antes da distribuição. 

A noite até podia ser tranquila. Pelo menos as "camas" eram, apesar daquele cheiro de excremento de canta-pedras que tagarelavam intermitentes por perto. Havia somente um senão. Um Mirage sobrevoava a o monte de tempo em tempo, obrigando-os a permanecerem em alerta e prontidão defensiva durante toda a noite. 

Não houve confrontos, não! Porém, também não houve sono até que o Mirage foi abatido às 07h01 da manhã pluviosa. E chovia como nunca!

=

*mosquito incómodo em quarto de hotel.

Publicado pelo Jornal Cultura a 17.01.24

segunda-feira, janeiro 08, 2024

À PEDRA III

(Memórias dos princípios dos anos 80 no Lubolu)

A minha infância foi atravessada por diversas vivências que configura(va)m o nosso contexto vivencial tipicamente angolano. Uma delas foi assistir à transformação do milho em fuba (farinha).
As mamãs, ainda jovens, combinavam o esfarelamento, o demolhamento e a feitura da fuba sobre pedra, usando o "martelo triturador" esculpido de um galho de árvore com a forma angular (L ou V) a que chamávamos e mantém o nome de handa.
Os batimentos sincronizados faziam música que se juntava às canções que elas entoavam para buscar forças e narrar a história e estórias do nosso povo convertido em "literatura oral". Era uma cooperação que não deixava ninguém para trás. E nós, filhos, inocentes e envoltos em brincadeiras, sempre perto delas, gostávamos do matete que se fazia no final da "moagem" e das broas feitas com banana.
A cunhada Emiliana, que era natural do planalto angolano (dizíamos que era do Huambo), tinha perícia em confeccionar broas enroladas em folhas de bananeira para as assar. A farinha usada era aquela granulada e ainda por secar.
Enquanto as mães moíam o milho, nós tínhamos a missão de arranjar conduto complementar ao que levavam de casa, normalmente kizaka, jihasa, um pedaço de peixe ou carne*. Juntava-se tudo. Cada uma dava um pouco de fuba e um pouco de conduto e fazia-se um repasto conjunto.
Recolhíamos ervas comestíveis, como as folhas de uma árvore que produz resina idêntica ao do quiabo, também designada "xingo", folhas de mulondolo e fazíamos armadilhas com visgo (cola de borracheira) para apanhar passarinhos que caiam bem num almoço sob pedra.
Uma boa caça era motivo de satisfação e orgulho de nossas mamãs que eram mamãs de todos os filhos da aldeia, assim como o matete e os passarinhos que apanhávamos.
* de caça grossa ou pequenos roedores (rato da mata, mangusto, paca, canta-pedra, esquilo, etc.).


Publicado pelo Jornal Litoral de 25 de Janeiro 2024

terça-feira, janeiro 02, 2024

KITOTAS SOBRE O RIO KWANZA

O proprietário do Restaurante Flutuante, ao Kalumbu, já lê Kitotas: recuos e avanços.

Mal viu a capa, perguntou:

_ Será que são cenas semelhantes às do Kwandu-Kuvangu? 

_ Há semelhanças, mas essas são kitotas vividas em primeira pessoa no Lubolu _ respondi-lhe, enquanto nos abraçávamos. 

_É preciso que registemos o que vivemos. Não é correcto que conheçamos mais a História de Hitler e do seu Ministro da Propaganda do que a História do nosso país que é o somatório de várias histórias _ Rematou Chilala, uns dos jovens que mais aposta no turismo.

quinta-feira, dezembro 28, 2023

KITOTAS EM MOÇÂMEDES

O Dr. Agostinho Neto, antigo FAPLA no KK, nascido em Malanje, decidiu fazer a sua vida em Moçamedes (Namibe) onde é Director Provincial da Educação. 

Exímio cronista e contista, Agostinho Neto  assinou para o Semanário Angolense, onde também "militei" no mesmo ofício, nos tempos do Director Salas Neto. 

Mesmo sem nos termos encontrado antes, reconheceu-me, baseando-se na foto que encimava os textos e "espetou-me" um caloroso abraço. 

Não sairia de Moçamedes sem dizer-lhe "obrigado" por me ter reconhecido. Deixei-o a ler Kitotas: recuos e avanços. Afinal, o Dr. Agostinho Neto esteve na linha de frente e na região que registou as mais quentes kitotas.

sexta-feira, dezembro 22, 2023

VÊNIA ÀS MULHERES TAXISTAS

"Dentre o total de taxistas, 2% devem ser mulheres". A estimativa é de Beatriz que diz fazer parte de grupos em redes sociais com outras "mulheres que não deixam o carro apanhar poeira” e que “não pedem tomate aos maridos". Vamos à crónica.

Quando, pela primeira vez, me conectei ao aplicativo e chamei pelo táxi privativo e vi o nome feminino, a primeira impressão foi "deve ser um nortense, daqueles que têm o apelido feminino", mas, momentos depois, receberia a chamada de um número desconhecido e a voz a anunciar o táxi era, de facto, feminino.
Muitas ideias aversivas ocorreram-me.
_ Uma mulher-homem? Uma mulher assaltante que se faz passar por taxista?
Quase desisti, mas o lado corajoso gritou altivo.
_ Kanyanga, vai!
Obedeci, afastando as fobias. Afinal era, em Luanda, dia de chuva preguiçosa e contínua. Que fazer?
Minutos depois, apareceu a senhora (já com ou perto de 40 anos transpostos) no terminal aeroportuário, num rosado i10.
_ Sou eu a Beatriz, caro senhor. _ Anunciou-se, perante o meu esforço em associar as informações recebidas na plataforma e o veículo real.
_ Bom dia e obrigado pela celeridade, minha senhora.
_ Aonde vai mesmo o senhor? _ Indagou a confirmar.
_ Vou à vila sede de Viana. Quanto à casa, não se inquiete. Até aonde o seu carro puder chegar.
_Já estava mesmo para me desculpar atempadamente, pelo dia de água e a altura do meu carro. _ Acrescentou.
Seguimos algumas léguas calados, prospectivos e cada um a espera de quem falasse primeiro e o quê. A senhora conduzia como um homem. Demonstrava habilidades na relação íntima com o volante, a estrada e todos os utentes da via. Parecia homem. Porem, e para a minha sanidade, não tinha tiques transexuais, nem barba. Acalmei-me.
_ A quanto tempo a senhora trabalha em serviço de táxi? - Indaguei, complementando:
_ desculpe, fui jornalista e não perdi o gosto pelo questionamento.

A senhora abriu um sorriso de mulher e respondeu sarcástica:
_ Parecia-me tenso e reservado quando entrou no carro...
_ Sim. Hoje há muitas mulheres assaltantes. Não desconfiei da senhora, mas era preciso explorar como fugir, se necessário.
_ Mas, também há homens raptores e assaltantes. Mais homens do que mulheres...
_ Sim. Tem razão.
A chuva dividia-se entre pingos esparsos, pingos regulares e outros mais intensos. Pinguiscava em toda a extensão do trajecto. O trânsito, porém, não estava congestionado e circulava-se bem. Num intervalo de 25 minutos tínhamos transposta a distância que separa o aeroporto 4 de Fevereiro e a Vila Nova (Viana).
Pude ainda saber, durante conversas recortadas, que Beatriz actua em part time há nove meses na actividade de táxi e é investidora em panificação e criação de tilápia. A meta diária é, segundo ela, “fechar Kz 30 mil/dia”, alvo que às 10horas já havia alcançado. Disse ainda que os homens eram "capazes de fazer o dobro", a depender do trânsito e das rotas.
_ As mais longas são mais bem remuneradas. _ Explicou.
Informou que trabalha com carro próprio, permitindo-lhe uma razoável renda para que não falte comida em casa.
_ Quem trabalha com carro alheio paga normalmente ao dono do veículo Kz 100 mil por semana e Kz 400 mil por mês.
O dono do aplicativo fica com 15% da facturação de cada corrida, o que considerou "aceitável".
Desviando para outro dos negócios em que actua, Beatriz reclamou da carestia da farinha de trigo para a panificação, algo que leva a baixar a gramagem e a consequente qualidade do pão.
_ Infelizmente, é o cliente que paga. Nós temos de tirar um pequeno lucro, depois de recuperar o gelo (não sabia que era necessário gelo na produção de pães), o sal, a manteiga, o açúcar, o fermento, a água e outros insumos.
Cumpri a promessa de que ela me devia deixar no ponto mais próximo de minha casa e onde eu sabia que o i10 dela correria riscos de entrada de água, devido a um acentuado buraco na rodovia. Paguei os Kz 3700,00 que o sistema indicou e cada um partiu para a sua vida. Eu para a minha casa que ficava a poucos metros e ela, igualmente, para casa, pois informou que tinha fechado a meta do dia, os Kz 30mil. Ficou por contar a experiência da criação de tilápias, conversa a não esquecer na eventualidade de um reencontro.

Texto escrito a 28.11.2023 e publicado pelo Jornal Cultura de 03.01.2024

domingo, dezembro 17, 2023

O 1° QUADRO DA PRINCESA

Foi-me apresentado pela Lúcia, a mais nova entre os Canhanga de minha (re)produção.

_ Papá, a Argemara (Princesa) fez isso!

Observei e notei que é o começo de uma estrada que pode ser longa e profícua, se se der apoio e se valorizar a arte pictórica nascente.

_ Vou comprá-lo. _ Disse em voz audível, integralmente descodificada pelo Arlindo que se achava por perto.

_ Argemara, ouviste? O papá vai comprar.

Não sei que mensagens mais os irmãos trocaram. Dado o cansaço e acossado por uma ligeira encefaleia, fiz-me ao chuveiro para dormir como "pedra lançada ao poço".

Esta manhã, venho que a autora se encontrava com os primos, a "engenheira"  ambiental Elizabeth Carina e candidato a geólogo Cristiano Canhanga Jaime, chamei-a a perguntar "quanto custa uma tela".

_ Depende do tamanho, papá. Mas esse custou Kz 4500,00, no São Paulo.

_ Vou comprá-lo. Pago Kz 20000,00. Chamei pelo Arlindo, o autodeclarado Director Executivo da Kam&mesa. 

_ Papá?!

_ Põe-no no carro e vai à Kam&mesa. _ Anunciei, fazendo, de seguida, a transferência conta-a-conta.

Deixei-a radiante. Tem o primeiro quadro comprado e estará exposto no quarto n° 06 da Kam&mesa.

sexta-feira, dezembro 15, 2023

SIMBOLISMOS CÁ & LÁ

(As boas coisas que devíamos kabular)

Interiorizei, desde cedo, que uma saída, por mais próximo que seja o destino, deve ser aproveitada, entre outros, para fazer também analogias entre os nossos avanços e atrasos em relação aos outros povos e geografias.

Assim, estando na cidade atlântica mais a sul de África, não me tenho coibido em trocar experiências e anelar o que podemos, mas ainda não possuímos ou gabar-me de nossas riquezas culturais e contornos geográficos ímpares que nos podem colocar, indubitavelmente, em rotas turísticas mundiais.

Eis que, andando desinteressado pelo "calçadão" de Sea Point deparei-me com o Mandela's glasses" que, de imediato, passei a comparar aos meus e a outros mais famosos e dignos de um monumento em noss'Angola querida.

 Os meus óculos, embora sejam de grande utilidade ao meu trabalho, não têm história. Ganham, daqui em diante, a sorte de ter uma estória.

Usei óculos sem graduação, quando era "teeneger", abandonando-os na primeira esquina da juventude, quando o culturismo ocupava parte do meu pouco tempo livre.

Tempos depois, surgiu a necessidade ingente de renda permanente, passando de sub-empregado a dupla ou triplamente empregado, elevando a minha exposição prolongada ao écran do televisor, que só veio a piorar com o surgimento dos telefones celulares. Foi a entrar para a fase da juventude plena (ainda) que fiz a primeira visita ao optometrista e ao oftalmologista que não fizeram mais senão prescrever-me um par de óculos.

Depois de quatro ou cinco anos a usar lentes correctivas, houve ainda um interregno de tempo em que fora declarado livre de "mawanas".  Hoje, porém, depois do telefone celular, os óculos são o meu segundo objecto de preocupação imediata e permanente.

Passemos a Madiba. Quem caminha à beira-mar, em Sea Point, Cape Town, verá, inocultável, um monumento em que se replicam os óculos do primeiro presidente negro da África do Sul. A caminhar pela baia, "Mandela's Glasses" é um ponto em que os turistas de várias origens (e até nacionais) procuram parar e fazer uma foto ímpar que serve de lembrança aos amigos (daqueles que fazem publicações nas redes sociais) e para marcar o autor/turista durante a vida toda, lembrando-se da estadia em Sea Point e da passagem pelo local.

Cada detalhe, cada objecto da vida de um líder com a grandeza de Nelson Mandela ou de Agostinho Neto pode ser transformado em motivo de atracção turística.

É sabido que os angolanos, representados pela Direcção do MPLA, negaram-se em receber os restos mortais do "guia imortal" sem os seus óculos, tendo, ao que se diz, a urna funerária sido devolvida à Ex-União Soviética (Setembro de 1979) para a colocação dos óculos (sem as lentes) e permitir que o cadáver embalsamado fosse facilmente reconhecido como o de Agostinho Neto que sempre se apresentou em público com os seus pesados óculos. Por tudo quanto foi aflorado, os óculos de Agostinho Neto, por si sós, merecem uma descrição e elevados ao conhecimento público dos nacionais e visitantes estrangeiros.

Vejamos, por exemplo, como a China, noutra latitude, faz para fomentar o turismo interno, fazendo réplicas de monumentos de outros países.

Uma réplica da Torre Eiffel pode ser vista em Tianducheng, ao passo que Xangai tem cópias da Torre (inclinada) de Pisa e Thames Town. A Florentia Village pode ser visitada em Wuqing e Hallstatt, em Huizhou.

_ Podemos copiar o monumento com a réplica dos óculos de Mandela e termos também na nossa Marginal de Luanda um local com os "Óculos de Neto"?

Acredito piamente que é possível!

Mas sobre a marginal de Sea Point não é tudo. O rhino's view point é outro local de paragem, quase que obrigatória, de dezenas de caminhantes.

O rinoceronte é um grande herbívoro existente na faixa sul e central de África, incluindo o Sul de Angola, e também na Ásia. São conhecidas cinco espécies, sendo duas em África e outras três no continente asiático.

É óbvio que o seu habitat não é a cidade e, fora os parques e safaris, a maioria das pessoas só os vê na televisão e nos filmes.

Os sul-africanos fizeram uma "brincadeira" encantadora na marginal de Sea Point, implantando peças diversas (representando partes do corpo do animal) que, quando vistas fora do ponto de observação, passam despercebidas. É preciso subir ao ponto de observação para que as "peças diversas" se componham em uma única figura. É uma bela forma de entreter o turista. Coisas simples, mas que marcam.

Sempre que me deparo com esses exemplos, fico a pensar na nossa Palanca Negra Gigante, que só existe em Angola, e que também pode "pastar" na nossa marginal da Praia do Bispo.

Por outro lado, as cidades crescentes como Luanda e Cape Town enfrentam desafios ligados ao estacionamento urbano. Em Luanda, são os jovens e adolescentes que vêem das barrocas da Boavista e outros bairros distantes que se assenhoraram das ruas das Ingombotas como se de sua propriedade se tratasse. O mais caricato é que até os polícias e fiscais pagam "gorjetas" a esses "miúdos" que podiam aprender profissões, em vez de se contentaram com dinheiro fácil e grande parte deles aos vícios como o álcool e drogas.

Diferente de Luanda, a fiscalização do "street parking" de Sea Point e Cape Town é feito de forma rigorosa e produtiva por homens e mulheres adultas que, munidos de equipamentos de facturação, comunicação para chamar a polícia e outros meios, gerem os espaços demarcados para o estacionamento temporário, colectando para a edilidade e agindo contra os incumpridores (resulta em outras colectas).

É fácil reconhecê-los. Homens e mulheres vestindo colectes reflectores e farda azul-escura, atentos aos que param e aos que deixam os espaços livres. A sobre estadia tem outra facturação ou multa. E os automobilistas cumprem. Tal faz também pensarem duas vezes entre caminhar uns metros ou levar a viatura e ter de pagar pelo estacionamento temporário.

A edilidade buscou uma parceria público-privada (ppp) para a sua gestão. Ao fim do dia, os fiscais dos espaços para estacionamento urbano dirigem-se a um "post-office" onde fazem as contas do dia e recebem a percentagem que lhes é devida.

Dá prazer vê-los a entrarem, depois de contas feitas, em lojas ou "street market" para pegarem o jantar e suprir outras necessidades caseiras.

Em 2020, eu havia feito uma reportagem ao meu Camarada de feliz memória, Sérgio Rescova, enquanto governador de Luanda. Pareceu ter acolhido os dados que lhe passei, mas não demorou e foi enviado ao Uige, perecendo tempo depois.

Num curso sobre Economia Moderna, (ENNAP 2020-2021), apresentei o assunto como meu "paper" reflexivo (espécie de monografia), tendo merecido um efusivo acolhimento do professor que recomendou "elevá-lo a artigo científico e ou materializar a experiência em Luanda".

Espero que este apontamento desperte os administradores da província de Luanda e outros a fim de repensarem no dinheiro que perdem ao deixar os espaços para estacionamento urbano em mãos de vadios e (alguns) delinquentes.

Por último, mas não menos importante, trago a experiência absorvida sobre o horário de trabalho. Antes, conto-lhe sobre o exercício mimético de um pombo que se confundira ao negro do asfalto.

O mimetismo está presente em nossas vidas. Humanos, outros animais tidos como irracionais e plantas experimentam, em alguns estágios de sua existência, o mimetismo. O camaleão é o mais conhecido neste exercício. Talvez assolado pelo frio, que no mês de Setembro não poupa nenhum vivente, um pombo negro encontrou um canto alcatroado para fazer-se passar despercebida.

O caminho não me era novo. Era o de sempre e sem novidades por expectar. Decidi, entretanto, focar-me nos detalhes para que a graça não se esvaísse com a redundância. Olhei demoradamente para a paz dos pombos, perante um mar normalmente bravio, mas que se mostrava calmo e um sol altivo em dia de chuva e sensação térmica calculada em 9 graus Celcius.

Caminhava, quase sozinho, naquela passarela longa e larga, perguntando-me "aonde foram os companheiros das caminhadas de todos os dias"?

Sempre encontrei a marginal apinhada de gente que combate a ociosidade, a obesidade e outros males. Geralmente, ninguém lúcido quer ter problemas de coração.

A ausência dos companheiros de passada e outros mais lestos que, normalmente, passam por mim com o quadruplo ou sêxtuplo da velocidade levou-me a questionar insistentemente aos "meus botões":

_ Será que a inundação humana da calçada apenas acontece com a soltura da função pública que, nesta cidade, entra às 09h e sai às 4 da tarde, perfazendo no trabalho presencial as 07 horas que nos custam cumprir em Angola?

Fiquei a pensar ainda na dificuldade que, por vontade nossa, instalámos em chegar às 08h00 e o bónus que recebemos na Lei de Bases da Função Pública que dita a entrada naquela hora "impossível" e a saída às 15h00.

Já que gostámos de kabular (nem sempre em perfeitas condições), por que não se estendeu o horário de entrada para 09 e saída às 4 da tarde, o que não cortaria sequer uma unha aos que têm o "congestionamento do trânsito" como justificação de perenes atrasos no local de prestação de serviço?

Há uma voz que me grita distante: "muitos não gostam mesmo é de trabalhar"! 

 

 Publicado pelo Jornal de Angola de 01.10.23