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terça-feira, abril 29, 2008

TINTA E CIMENTO DÃO NOVA CARA AO KUITO


REPORTAGEM
Depois da guerra é chegada a hora da reconstrução. Na Avenida Joaquim Kapango, a principal do Kuito, as faixadas dos edifícios recebem novos rostos fruto do Programa Especial Mínimo de Reconstrução da Cidade do Kuito – PEMRK. Segundo o director provincial das obras públicas do Bié, João Marques Bango, o governo repara as partes frontais das residências de modo a conferir uma nova imagem à cidade.
Dentre os edifícios reparados, em reparação e por reparar consta o conhecido prédio da Gabiconta, por sinal o mais alto da cidade e que foi depois da guerra pós eleitoral o símbolo da destruição do Kuito.
O edifício reparado, volta a desempenhar o seu antigo papel de ex-líbris da cidade. Apesar da beleza que confere hoje à cidade, Marques Bango avança que outros trabalhos terão de ser feitos no seu interior, devido a ruptura dos esgotos.
Ainda no que toca à construção e reconstrução dos edifícios, Marques Bango avança outras novas frentes.
“As instalações que acolheram a Segurança do Estado serão completamente demolidas e construído um novo”, disse acrescentando que contactos estão em curso com os ocupantes dos escombros, de modo a abandonarem o recinto e permitir o inicio dos trabalhos. Para se garantir a eficácia e a segurança das obras em curso, uma comissão técnica foi criada pelo governador, Amaro Taty, cujo fim é vistoriar os edifícios e analisar os projectos técnicos antes da emissão das licenças de construção/reconstrução de mais de uma dezena de edifícios.
Para as famílias com escassos recursos, o governo, através do PEMRK, distribuiu mais de cem kits de construção contendo dentre outros meios, cimento, tintas, chapas de losalite, portas e janelas, mosaico e loiça sanitária, num valor calculado em kz 250 mil por kit.
Noutra vertente, segundo ainda o director das obras públicas do Bié, empreiteiros chineses vão construir cerca de duas mil e quinhentas residências de alta, média e baixa renda nos arredores do Chissindo, sendo que os trabalhos geológicos já foram efectuados.
AS ESTRADAS
A reparação das vias secundárias e terciárias da província do Bié é outra das apostas do Executivo de José Amaro Taty, devendo acontecer entre os meses de Maio e Agosto, segundo Marques Bango. “O Governo conseguiu equipamentos de terraplanagem e começar-se-á pela periferia do Kuito, estendendo-se os trabalhos às outras municipalidades, bem como a ligação entre as sedes municipais, comunais e aldeias”, explicou.
Também para breve está a reparação das estradas Kuito/Chinguar e Kuito/Menongue, ambas já consignadas e com conclusão prevista para o final deste ano. As rodovias Kuito/Kamacupa, Kuito/Kuemba, Kuito/Andulo e Andulo/Nharea aguardam pela consignação do Ministério das Obras Públicas.
O AEROPORTO JOAQUIM KAPANGO:
Encerrado há mais de 2 anos para obras de restauro a pista do aeroporto Joaquim Kapango tem já 1700m reparados, sendo o mês de Junho o apontado para a entrega da obra e consequente reabertura ao tráfego aéreo. Atrasada está a vedação do recinto aeroportuário, facto que leva Marques Bango a não arriscar a data da conclusão desta sub-empreitada. Quatorze milhões de dólares americanos é quanto custa a reparação do aeroporto que uma vez concluído servirá de alternativa ao Internacional 4 de Fevereiro, já que o aeroporto Albano Machado, do Huambo, entrará imediatamente em obras.
JOGOS ESCOLARES
A realização em Maio próximo na cidade do Kuito dos campeonatos nacionais escolares está a movimentar a cidade onde 15 espaços desportivos ganham novos rostos, com trabalhos de reparação e até mesmo a construção de novos recintos de jogos.
A iluminação pública em toda a zona urbana é já um facto e começa a ser extensiva aos bairros periféricos como o Kantiflas, Kamburukutu, Fátima, Santo António, Popular e Piloto. A falta de água canalizada nos bairros da cidade é compensada com a construção de fontanários e poços artezianos que aos poucos substituem as famosas cacimbas.
KUPAPATAS
Enquanto os transportes públicos não chegam à cidade do Kuito/Bié os taxis e as motorizadas, também conhecidas por Kupapatas, têm sido a solução para pequenas e médias deslocações dentro e fora do Kuito. Os preços variam em função da distância e da hora. Distâncias mais longas e à noite, por exemplo, cobram-se mais caro, sendo o valor mínimo o de Kz 50.
A diferença entre apanhar um kupapata e um taxi é que os primeiros levam até à porta de casa, ao passo que os segundos limitam-se a ligar os mercados municipal (na cidade) e o do Chissindo (à entrada da cidade, estrada do Huambo) ao preço de Kz 50.
ESTÓRIAS DE SUCESSO
A agricultura é dos pontos fortes da região central de Angola. A bata rena, o milho, o amendoim (ginguba), o feijão, citrinos, horto-frutícolas, entre outros produtos despontam nos campos sendo o Bié um dos principais fornecedores das cidades litorais. Entre os que apostaram na agricultura está Sabino Salongue, 67 anos, natural de Ekovongo e reside na cidade do Kuito desde a sua adolescência. Enfermeiro reformado, Ti- Salongue, como é carinhosamente tratado pelos mais novos da cidade, já dirigiu os hospitais provincial do Bié e municipal do Kuito.O sexagenário diz nunca ter saído do Kuito, mesmo nos tempos mais críticos das confrontações militares.
“Sempre vivi aqui, depois de curtas passagens por Malanje e Luena”, gaba-se ao mesmo tempo que aplaude os avanços que se notam na cidade e na província.
“Dedico-me agora à agricultura e este ano pode ser de boa colheita de milho”, respondeu quando interrogado sobre como passa a sua reforma.
Ti-Salongue conseguiu um tractor agrícola e é com os proventos do campo que custeia os estudos universitários de três de seus filhos na capital do país.
“Se tudo correr bem no próximo ano recebo mais dois doutores e já poderei ir feliz”, ironizou.
Tal como Sabino Salongue, Argentina Ernesto é outra reformada que aos 58 anos faz do campo a sua nova ocupação. Dona Argentina junta o valor da reforma da Função Pública e os proventos do campo para cuidar dos netos, enquanto as filhas se formam em Luanda.

“Se eu parei de estudar porque não houve possibilidades, penso que estando na reforma e com as filhas a estudar também é uma vantagem”, disse.
Dona Argentina diz que hoje é muito mais fácil cuidar dos netos do que ontem, enquanto trabalhava, facto que diz proporcionar-lhe muita alegria.
Luciano Canhanga

sábado, abril 26, 2008

GABICONTA: DE SÍMBOLO DA DESTRUIÇÃO A SÍMBOLO DA RECONSTRUÇÃO

Aqui neste prédio, contam os moradores da cidade do Kuito, foram travados os mais renhidos confrontos entre as forças governamentais que impediam a queda da cidade às mãos da rebelião e esta. Foram duros os dias mais quentes da guerra pós-eleitoral, felizmente terminada.

O edifício que está situado na Rua Joaquim Kapango, a principal do Kuito, foi até ao início da sua reconstrução o símbolo da força destruidora da guerra na capital biena e no país, depois das eleições de 1992.

À frente nota-se ainda o Igreja católica do Kuito também ela totalmente destruída e a aguardar por dias melhores.

A imagem mostra tão somente o esforço do governo em desfazer-se das marcas da guerra e legar para a História todos os acontecimentos tristes.
Exemplos como este há muitos pelo país.


Luciano Canhanga

quarta-feira, abril 23, 2008

MPLA NO BIÉ: “MUDAREMOS A HISTÓRIA DE 1992"

Afirma Joaquim Uanga, o Primeiro-Secretário provincial

Trabalho é a palavra de ordem do partido dos camaradas no Bié que, depois da amarga surpresa imposta pela UNITA em 1992, pretende redimir-se da derrota de 5-0 sofrida naquela província central do país.

Joaquim Uanga não esconde que a luta pelo voto será renhida entre as principais forças em jogo. O primeiro-secretário do MPLA não menospreza, por isso, nenhum dos adversários e diz que só com muito trabalho a safra cairá certinha para o seu “cesto”.

Pergunta (P): Estamos a cinco meses das eleições, qual é o estado de preparação do vosso partido para a corrida?

Joaquim Uanga (J.U.): O nosso partido está a gozar de uma boa saúde e preparado para todos os desafios que surgirem. Por isso correspondemos ao programa nacional de contacto entre os dirigentes e a base, no dia 05/04, isto para incrementar do trabalho que temos vindo a fazer, há muito tempo. Nesta base informamo-nos sobre quem são e onde estão os nossos militantes e simpatizantes, tomamos nota das preocupações das populações, informamo-las sobre os esforços do governo e as perspectivas do país com um novo governo do MPLA.

P: Está a dizer que o contacto porta-a-porta já começou?

J.U.: Esse trabalho já, há muito, tem sido feito. Aqui no Bié evitamos trabalhar com estimativas e desde o fim da guerra que temos vindo a desenvolver campanhas porta-a-porta com o fito de obtermos dados reais sobre com quem contarmos em Setembro.

P: E com que números conta o MPLA no Bié nesta altura?

J.U.: Os dados são positivos e satisfazem a direcção do partido. De momento não os vamos revelar, mas podemos dizer que os resultados de Setembro serão diferentes dos obtidos em 1992.

P: Grosso modo, quem melhor recebe a vossa mensagem?

J.U.: Nós estamos com 60% de mulheres e a juventude. As primeiras sofreram na pele e os jovens assistem as mudanças positivas que o governo do MPLA efectua na província e que podem ser ampliadas continuando no poder.

P: Olhando para os números de 1992, qual é a principal meta do MPLA?

J.U.: Para responder à sua pergunta devo dizer que nós estamos a fazer o nosso serviço sob a palavra de ordem “MPLA trabalhar para vencer”. É este o objectivo do partido.

P: A vitória incluirá inverter os 5-0?

J.U: Não gostaria de criar falsas expectativas. Tudo fazemos para que o voto seja livre e respeitamos todos os que participarão da corrida. A única coisa que lhe posso dizer é que nós pretendemos cumprir com os nossos objectivos e, para tal, vamos continuar a convencer o eleitorado sobre as vantagens do nosso programa de governo, esforços que nos levarão à vitória no Bié e em todo o pais. De momento preferimos falar sobre o trabalho que nos levará a colher bons números em Setembro.

P: Há ainda hoje no Bié espaços cativos do MPLA e da UNITA?

J.U.: Vou falar apenas de nós que estamos em todos os nove municípios, nas trinta comunas e em todas as aldeias e embalas onde a única coisa que muda são os números, devido à densidade populacional de cada aglomerado. Em termos de força e presença estamos em todo o território bieno.

P: Enquanto primeiro-secretário do MPLA na província, qual é o adversário que mais o preocupa?

J.U.: (Risos) Penso que não devo eleger nem o adversário mais forte nem o mais fraco. Todos são adversários e porque as eleições, às vezes, trazem alguma surpresas o respeito é para todos.

P: Os políticos da oposição queixam-se frequentemente da intolerância política por parte dos militantes do MPLA. Verdade ou mentira?

J.U.: Ouvimos com frequência, mas temos vindo a refutar esses vocábulos, porquanto nunca foi nosso apanágio incitar ninguém para essas acções. O que se passa, na verdade, tem sido a rejeição, na base, de determinadas mensagens e políticos que deixaram de cativar as populações. Nós ganhámos o nosso espaço, fruto das nossas obras e os que se queixam são aqueles que perderam espaços ou que não conseguem tirar sequer “migalhas do nosso bolo”.

P: Está a dizer que o MPLA domina agora as antigas praças-fortes da UNITA?

J.U.: Não é por aí. Nós não falamos em praças-fortes nem a sul nem a norte. O que posso avançar é que o MPLA no Bié está agora em toda a parte e instalado com muita aceitação. A tal dita intolerância não é mais do que a rejeição das populações que já tiveram sob o seu controlo no passado. Digo mesmo que não seria justo que o MPLA que abriu o país ao multipartidarismo estivesse agora a impedir a acção política da oposição.

P: Mas numa corrida eleitoral as regras são pouco claras…

J.U.: Sempre fazemos o jogo limpo.

P: Estamos em contagem regressiva e a educação cívica é importante...

J.U.: Essa questão sempre constou do nosso programa. O conhecimento dos nossos símbolos, por parte dos eleitores, e a sua mobilização para o voto é pão de cada dia.

P: Queixa-se também a oposição que o MPLA bloqueia as actividades de outras forças políticas realizando actos paralelos…

J.U.: Que eu domine essa informação não. Todos os partidos são livres de realizar as suas actividades, desde que não estejam fora da lei. O que não se deve reclamar é a concorrência que depende apenas da capacidade de mobilização. Nós nunca reclamamos sempre que outros se anteciparam às nossas actividades. É preciso que esclareçam o quê que os amedronta.

P: Discursos com vivas e abaixos são ou não perigosos à coabitação pacífica?

J.U.: Enquanto dirigentes actualizados, sempre jogamos com os contextos. Usávamos estas expressões para combater a guerra. Conseguida a paz não vemos mais razões para tal. Só as pessoas desactualizadas é que continuam a dizer abaixo ao nosso presidente, entre outras asneiras. Estas pessoas que ainda agem como se estivessem na década de 80 devem é ser perdoadas para se evitarem mais confusões.

P: Olhando para a cidade do Kuito e para a província no geral, há reconstrução, mas também há atrasos nas estradas, o comboio não apita e os aviões não pousam no Kuito. Isso preocupa ou não o partido que governa?

J.U.: Temos consciência de que não é possível a reconstrução, em seis anos, daquilo que foi destruído em mais de trinta anos de conflito e ainda fazer quilo que se devia ter feito e não se fez.

O nosso governo está com duas empreitadas: fazer e refazer. Nós estamos a acompanhar e a tranquilizar os bienos que as estradas terão novos tapetes, que a energia chegará à casa de todos, que as escolas e a saúde atingirão todas as aldeias e de igual forma a água. Quanto ao aeroporto, temos a garantia de que será reaberto em Junho, estando nesta altura concluídos mais de 50% da empreitada. Estou também certo de que as pessoas vão compreender que valeu apenas esperar pelo tempo que duram as obras, já que é um trabalho de profundidade. O Comboio também voltará a apitar.

Luciano Canhanga

domingo, abril 20, 2008

VER, OUVIR E DIZER COM RAZÃO


(Crónica de viagem)

Razão é o exercício da racionalidade, usando aquilo a que Aristóteles definiu como verdade. Dizer que é o que é, e que não é aquilo que não é.

Debico essas ideias a propósito do que vejo ao longo das minhas idas ao interior do país (sempre que me refiro ao interior é partido de Luanda) e sobre o que leio e oiço na comunicação social. O tema é: Reconstrução e Construção Nacional.

Surgem constantemente críticas segundo as quais o actual “governo é inoperante”. Outros dizem que quando forem eleitos farão o que o actual governo não faz. Nessa ordem de ideias colocam-se como desafios a construção e reconstrução de estradas e pontes, infraestruturas sociais básicas (escolas, hospitais, água e luz), habitação social entre outras tarefas de que o povo carece.

Uns apregoam a “inoperactividade” do actual governo por meros caprichos eleitoralistas. É o papel da oposição criticar. Mas se o fizer com razão será muito melhor. Outros porque desconhecem o que se faz. E porque até nunca conheceram o marasmo em que a guerra mergulhou o país.

Que não se tem ainda o país ideal, isso julgo ser verdade. Que o actual governo está a fazer muita coisa, isto julgo também ser verdade. Que o povo ainda não está satisfeito, isso também é verdade. E por que razão julgo serem estas verdades, segundo a definição aristotélica?

_ Houve um tempo em que o governo controlava apenas 30% do território nacional. A grande arma usada pela guerrilha para impossibilitar a acção e extensão do governo era a destruição de pontes, minagem de estradas e ataques até onde não havia presença de forças militares. Enquanto vivi na Munenga e em Calulo assisti a várias acções dessa natureza. Hoje, a acção governativa é um facto em todo o país e, com ou sem estradas desejáveis, os angolanos já se fazem transportar em carros de lés a lés, ou seja: de Cabinda ao Cunene e do Lobito ao Luau.

Outra verdade é que as coisas estão a ser mal feitas. A estrada que mais conheço é a EN120 que liga Luanda ao Huambo, atravessando as províncias do Bengo, Kuanza-Norte e Kuanza-Sul. Muitos trechos reabilitados ainda não foram inaugurados e já apresentam novos buracos. O asfalto e os lancís são colocados de forma tão superficial que à primeira chuva eles se descolam. Isso para não falar de outros aspectos técnicos. Disse-o, e muito bem, num artigo assinado no Novo Jornal, o deputado Jaques Arlindo dos Santos que “o asfalto colocado na EN120 muito se parece a uma lona que se descola à chegada da chuva". Vamos apontar esses erros. Chamar e apelar aos órgãos fiscalizadores para tomarem medidas pertinentes. Chamar os empreiteiros à razão, pois não basta fazer, mas sim fazer bem. Não podemos pagar duas vezes por uma mesma obra.

O povo agradece pelos trabalhos feitos e que facilitam as suas vidas, mas o povo também vê que se não houver maior sentido de Estado por parte dos fiscais das obras, se os culpados pela descartabilidade das obras não forem responsabilizados, podemos em curto espaço de tempo voltar à estaca zero. Daí que o apelo é para que se façam bem as coisas e que se critique com razão!

Luciano Canhanga

quinta-feira, abril 17, 2008

KIAMA FULO: UMA PRAIA COM DIAS CONTADOS


Estou sobre a ponte do rio Kuanza.
É a fronteira entre as províncias do Kuanza Norte (município de Kambambe) e Kuanza Sul (município do Libolo).

Ao fundo, para além do curso normal do rio Kuanza, mostrando também o início da albufeira da barragem de Kambambe, pode-se ver a praia fluvial de Kiamafulo, agradável local de recreio para os moradores de Kambambe, Dondo, Kambingo e doutras paragens.

Dizem que a nova reconfiguração da hidroeléctrica de Kambambe vai aumentar a albufeira e a praia de kiamafulo vai desaparecer, devido ao aumento do nível de água.


Antes da travessia da ponte a polícia nacional tem aqui um controlo. No passado, nenhum homem em idade militar o podia transpor sem que tivesse a situação militar regularizada. Hoje, o controlo permanece. A única coisa que mudou é que nenhum automobilista que faça o serviço de transporte de pessoas e ou mercadorias o transpõe sem pagar a “gasosa”. A excepção é feita apenas aos autocarros de empresas licenciadas para o transporte inter-provincial.

E se a dita "gasosa" fosse na verdade um refrigerante, uma caixa seria pouca para tirar a "sede dos polícias gasoseiros" que ficam normalmente em Kalomboloca, Zenza do Itombe, Desvio da Munenga, Kizouo, Ponte do Nhia e Alto Wama. Citei apenas os pontos "críticos" da estrada nacional EN120 de Luanda ao Huambo.

Perante o facto, uma questão se coloca: O alto comando da nossa Polícia Nacional tem ou não conhecimento da existência destas barricadas?


A foto foi tirada no dia 9 de Abril de 2008 de viagem ao Kuito/Bié.

Luciano Canhanga


terça-feira, abril 15, 2008

LUANDENSES TROCAM CARROS PELA MARCHA



Todos os dias milhares de cidadãos percorrem as estradas rumo ao serviço

Voltou a chover em Luanda. No interior dos bairros periféricos quase não se circula e até mesmo viaturas todo-terreno encontram enormes dificuldades em transpor charcos e lamaçal. Dos quintais às ruas, há áreas em que escasseia terra firme para se pôr o pé. Quando isso acontece, pedras para transpor os “obstáculos” são colocadas por jovens desempregados que cobram entre Kz 10 a Kz 50, para que se possa circular sobre elas.

Nas estradas asfaltadas, também invadidas pela água, lamas e lixo, o cenário é assombroso. Os engarrafamentos tomam conta delas das 6h da manhã às 23 horas. Sabe disso quem vive ou se desloca para os bairros Popular, Golfe-Correios, Cassequel, Viana, Cuca/Hoji-ya-Henda/Kunzas, Mabor/ Kikolo/Cacuaco, Tala Hadi/Cazenga/5ª Avenida, entre outros. Os taxistas, únicos que desafiam tudo e todos, encurtaram os troços e encareceram o custo da passagem de Kz 50 para Kz100, motivo que leva às estradas milhares de pedestres.

Alberto Massaca, 47 anos, vive no bairro do Grafanil-Bar e trabalha na baixa da cidade. Conta que prefere caminhar de casa ao largo da Independência (1º de maio) devido aos engarrafamentos e à carestia da passagem no táxi. “É que para além de se chegar sempre tarde sou obrigado a desembolsar perto de Kz. 500, só a ida”, explica. A solução, segundo ele, tem sido madrugar e ir conversando com os companheiros de percurso.

Madalena Joaquim e Abel Samukolo que são colegas numa casa comercial na rua Machado Saldanha, ao Bairro Popular, também caminham do Golfe ao serviço.
“Levo normalmente botas de chuva e sapatos normais que só uso no serviço”, contou Madalena.

O que a nossa reportagem pôde constatar é que muita gente, às vezes, nem chega ao serviço, pois a passagem de um condutor imprudente ou um passo em falso podem ser motivos para ter a roupa suja e ter de regressar à casa sem se ter chegado ao posto de trabalho. Abel Samukolo conta que já lhe aconteceu várias vezes não ter chegado ao serviço por esse motivo.

Os entrevistados relatam ainda que há anos que a situação vem piorando, existindo bairros como o Tala Hadi onde os moradores são forçados a abandonar as suas casas devido à intransitabilidade no seu interior, chegando a água da chuva inundar várias residências por falta de drenagem.
Quando interrogados sobre quem deve reparar a situação que se vive em Luanda em tempo de chuva, os entrevistados não hesitam em dizer que o Governo e/ou “quem de direito” tem de resolver o problema com urgência.

Joaquim Artur, 68 anos, é conhecido na rua 12 de Junho, no Sambizanga, pelos seus desabafos sarcásticos. Para ele, Luanda tem de ser evacuada e entrar imediatamente em obra geral. O sexagenário que diz ter vivido sempre no Sambizanga diz ainda que nunca se assistiu a degradação tão acentuada das ruas no seu município e um pouco por toda a capital.

Contactado o governo da província de Luanda, obtivemos a informação de que para além do alargamento de estradas como a que nos leva à Viana, a construção da via circular, Benfica/Viana/Cacuaco, entre outras, há outros esforços em curso ao nível das administrações municipais que começaram a receber meios técnicos para que a curto prazo se invertam as coisas. A fonte que preferiu não ser citada disse ainda que casos pontuais estão já a ser atacados pelas administrações municipais.

VIANA/LUANDA: COMBOIOS NÃO RESOLVEM POR COMPLETO


Matadidi Bernardo vive em na vila de Viana. Na terça-feira, 15 de Abril, saiu de Viana às 7h e só chegou ao largo Sagrada Família, onde trabalha, às 14 horas. Conta que a luta começa nas paragens onde se apanham o táxi ou o autocarro. “Conseguir pôr o pé dentro deles é já uma vitória”, conta, acrescentando que nesta "empreitada" muitos perdem as carteiras ou acabam com as roupas completamente sujas.

O nosso interlocutor conta ainda que de autocarro a viagem é muito mais demorada chegando a fazer entre 4 a 6 horas, isto é de Viana ao Hospital Militar. “Nessas circunstancias motivadas pelos engarrafamentos, muitos preferem abandonar os taxis e autocarros e terminam a viagem à pé”, explica.

Mais lestos e económicos são os comboios. Vinte minutos de percurso Viana/Estação dos Musseques ao preço de Kz.30 (comboio normal) e kz.150 (expresso). Este facto faz com que as enchentes sejam enormes junto ao término, nunca havendo lugar na segunda paragem. Nos comboios também se apontam males como o sujar da roupa, o suor, e o roubo de carteiras. Outro handicap tem sido o facto de os comboios não circularem todo o dia, fazendo apenas 4 viagens no período da manhã e igual número à tarde.

“Enquanto não for concluido o alargamento da estrada de Viana só os comboios podem resolver a falta de transportes e os engarrafamentos”, reclamam os entrevistados.
Joaquim Neto, oficial das Forças Armadas, é de opinião de que medidas educativas e repressivas devem ser tomadas contra os candongueiros (taxistas) que encurtam as vias e violam os espaços reservados, inclusive à circulação dos comboios do CFL. “Até quando se vai manter a situação”? é a pergunta que deixa para reflexão.

Luciano Canhanga

terça-feira, abril 08, 2008

PERCORRENDO O NORDESTE


Crónica de viagem

Quem acompanha estas crónica terá dado conta que já estive no centro do pais, saído da costa atlântica. Estou agora no nordeste, na região das lundas. Tal como no litoral, no centro e no sul, onde estive sobre rodas, aqui, o cenário pouco difere em termos de crescimento.

É certo que aqui é um extremo. Aqui terminou a colonização portuguesa, terminam as estradas, os apoios, enfim. Mas, mesmo assim, quem conheceu o nordeste ontem, e cá vier hoje, encontrará muitas mudanças. As cidades e vilarejos ganham novos rostos, as estradas vão sendo asfaltadas e alargadas com base no novo padrão. Os empresários vão acreditando e as novas edificações crescem de tempo em tempo. A vida vai melhorando e o custo dela vai baixando, fruto da transitabilidade por estradas. O governo através de programas específicos vai fazendo a sua parte e as populações também a sua.

Os aglomerados populacionais ganham escolas, centros médicos e outros serviços. Há aqui, no nordeste, um elemento importante: Os jangos comunitários, onde as populações se reúnem para tratar dos assuntos comunitários e legar a cultura aos mais novos. São também locais de lazer, contando alguns com a instalação de kits de TV(TPA) por satélite.

Quanto à disputa política, três bandeiras “dominam os ares”: Mpla, Prs e Unita marcam presença em todos os aglomerados ao longo da estrada Malanje/Saurimo e Saurimo/Luena, assinalando-se também a presença óbvia da bandeira nacional. Os aldeões contam que cenário idêntico se verifica no interland.

Outra nota de destaque é a falta de literatura no interior. Tudo se lê: cartazes propagandísticos, velhos jornais e revistas, enfim.

“É só para divertir os olhos e não ficar toda a hora a dormir”, disse um ancião na casa dos cinquenta, abordado à propósito, na aldeia de Kamundambala, 10km de Saurimo.

Luciano Canhanga

terça-feira, abril 01, 2008

VER, OUVIR E DIZER


A BANHA DE COBRA DA IURD

Inundam os jornais, espaços radiofónicos e inclusive Televisivos (TPA incluída), anúncios de uma igreja que “se arroga ao direito de ter substituido o Estado” no seu papel de socorrer as vítimas das inundações e doutras calamidades naturais.

Reporto-me à publicidade tóxica quanto e irritante passada pela IURD e que desagradaria até ao diabo.
-Quem ainda não se deparou com a falácia: “Igreja Universal doa mais de 200 toneladas de alimento”?

Há já mais de 1 mês que ocupa páginas inteiras na comunicação social, como se fosse a única que tem actos de caridade para com os necessitados, ou que estivesse a anunciar algo magistral e sem igual.

Não sendo notícia e atendendo que os veículos que o difundem não o fazem de graça, não teria sido muito mais frutuoso se se acrescentassem esses “rios de dinheiro” as 200 toneladas em vez de se estar a infestar os ventos com coisas que ningém lê?
- Onde anda a moral religiosa, meus senhores, quando a bíblia aconselha a orar baixinho e deixar que Deus, omnisciente, conte por nós e qualifique a importância das nossas oferendas?

Sem ter de falar da forma como é arrancado o dinheiro das mãos dos (in)fiéis, que já foi e é muito contestada, quero apenas dizer que não é, a meu ver, ético que andem por aí a publicitar, durante um mês, o que fizeram por gente aflita. Publicitar uma doação, é o mesmo que repontar qualquer outro acto. Melhor se não tivessem doado tais toneladas.

Tudo quanto sei é missão da igreja visitar os enfermos, dar de comer aos que têm fome e de beber aos que têm sede, algo que a patológica IURD há muito se esqueceu ,ou melhor, nunca soube.
É que chegam a ser enjoativos os anúncios desta –IURD- vendedora de banha de cobra. Fé e graça andam de mãos dadas e nem precisam de publicitação. Em qualquer denominação religiosa deve haver “mais graça em dar do que em receber”.

Luciano Canhanga