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quinta-feira, maio 22, 2008

QUEM LEVA DA MELHOR?


Lado a lado, mas não na mesma posição, seguem MPLA e UNITA. Dum lado o jargão é “Trabalhar para vencer” doutro lado são três jargões combinados em um o nosso objectivo está à vista, a nossa marcha é imparável, juntos podemos".

Antes mesmo de o presidente José Eduardo dos santos, nas suas vestes de Chefe da Nação, ter disparado o tiro da largada para a campanha eleitoral, os “cabos de guerra política” já se adiantaram para o "teatro das operações".

MPLA a começar e UNITA a seguir-lhe as peugadas, levam a cabo um “corpo a corpo” no convencimento do eleitorado não cativo e quiçá, “roubar” algum ao principal adversário.

O certo é que numa contenda, qualquer que seja, todos saem a ganhar. Um ganha a contenda, propriamente dita, no caso concreto as eleições, e outro ganhará, com certeza, mais juízo!

A festa está a aquecer e cada vez mais interessante.

Luciano Canhanga

sábado, maio 17, 2008

NGANDU: UMA ESCOLA DE PATRIOTISMO


Ngandu é uma aldeia com cerca de 75 famílias no interior do município de Saurimo, na Lunda Sul. O povo desta pequena comunidade é eminentemente agrícola, com uma produção que raras vezes excede ao consumo. Porém, a aldeia que não tem latrinas (o soba explica que é por razão cultural), água canalizada, energia e sinal telefónico, tem uma lição a transmitir às grandes cidades.

É manhã, o secretário bate à porta da casa do soba, Luís Sakalongo. Depois da tradicional vénia, o secretário sai com duas bandeiras na mão. A primeira é a da República e será içada no mastro junto à escola da aldeia. A segunda é do MPLA e será içada num terreiro, não longe da casa do líder da aldeia. É assim todos os dias, conta o soba.

Sem necessidade de se tocar um sino ou coisa parecida, os habitantes colocam-se de pé, firmes e em silêncio, olhando para a bandeira que sobe vagarosamente. Até mesmo as crianças interrompem a sua traquinice e ninguém se movimenta. Os homens tiram os chapéus da cabeça e as mulheres arreiam as vassouras. É a norma.

Içada a cor que a todos representa de forma indistinta, é chagada a vez da bandeira do MPLA. Os que nela não se revêem são poucos e são os que partem para os seus afazeres. Os que a têm no coração mantêm-se de pé. Estáticos. Apenas olhares mirados para o pano tricolor que sobre. devagar, devagarinho. O secretário vai fazendo pequenas pausas, até atingir o topo e amarrar a corda ao mastro de pau.

O cenário é repetido à tarde, no dia seguinte, todos os dias, todas as semanas e todos os meses e anos. Os mais novos vão crescendo e sem que seja necessário o apelo, a comunidade vai, por via da repetição perpetuando o amor à bandeira e ao hino que a todos representam.

Do outro lado da aldeia está içada, de forma permanente, uma outra bandeira. É a do PRS, o partido que lidera a oposição ao MPLA nas Lundas. O soba explica que ela nunca esteve nem a meia haste nem retirada.

“Os homens chagaram aqui, pregaram a bandeira, plantaram o pau e nunca mais voltaram”, explica Sakalongo.

A tolerância é na aldeia o melhor caminho para a coabitação. “Todos dizem que ela devia também subir e descer como as outras, mas foi pregada. E ninguém diz nada. Apenas olhamos e até as crianças já sabem que não devia ser assim”.

Luís Sakalongo é ferreiro de profissão e já desempenhou a função de deputado à Assembleia Provincial do Povo na Lunda Sul.

O secretário da aldeia é seu irmão e fez parte do primeiro lote de jovens que foi a Cuba estudar. Já em Angola, as coisas não lhe correram bem, por razões que nem ele, nem o soba explicou. “Para não andar mal na cidade fomos buscá-lo e está aqui na aldeia connosco”.

O outro irmão é o adjunto do soba. Araújo Marianda, 68 anos, já foi membro e responsável da ODP (Organização de Defesa Popular). “Fui dos primeiros que fomos fazer o curso em Benguela e no Cunene. Estou aqui depois de muito ter lutado”, contou.

Ambos, Luís Sakalongo e Araújo Marianda, reclamam apenas o facto de não receberem nenhuma pensão como antigos combatentes, mesmo depois de terem escrito por diversas vezes às estruturas governamentais da província e do partido.

Como forma de chamar a atenção dos que por lá passarem, sobretudo os governantes e líderes do partido que defendem, o soba decidiu em rebaptizar o nome da aldeia para NGANDU LUFUNE KEXI CUNHONGA, que traduzido do Cokwe para português nos leva à ideia de “quem muito trabalhou mas que não é reconhecido pelos feitos”.

Ngandu é hoje uma das aldeias mais organizadas, graças ao empenho e sabedoria do seu soba, Luís Sakalongo.

Luciano Canhanga

terça-feira, maio 13, 2008

ROBOTEIROS: UM SERVIÇO ÚTIL


Desconhece-se quem assim baptizou os carregadores de produtos e mercadorias em carros de mão. Vemo-los em todas as cidades e, sobretudo em Luanda, sendo os mercados, as lojas e os armazéns grossistas os seus locais predilectos, devido à clientela.

Robota: Significa na língua russa trabalho, derivando daí o termo roboteiro para designar trabalhador.

Os roboteiros passaram a ser tão úteis na nossa sociedade quanto os demais profissionais liberais, como o sapateiro, o alfaiate, entre outros. As donas de casa, são as que mais recorrem ao serviço destes “facilitadores” para levar as compras à casa, sobretudo quando não se tem carro próprio.

Manuel Joaquim, é benguelense e deixou a terra natal aos 13 anos fugindo a guerra que afectou o pais. Em Luanda sem parentes que o podessem acolher, começou por viver na rua, enfrentando as mais amargas experiências da vida. A delinquência, a chuva e o frio foram algumas das barreiras que teve de ultrapassar, até decidir-se por lavar carros na baixa de Luanda. “Resto do dinheiro guardava e o resto comprava comida e algumas roupas”, conta. Assim, começou a nova vida de Joaquim, agora com 23 anos, vivendo no Sambizanga e já com família constituida.

Estória semelhante conta Manuel Umba, natural do Bié e residente em Luanda desde 1993. Umba disse que fugido do Chitembo devido ao conflito militar pós-eleitoral escolheu como “terra prometida” a cidade de Benguela, onde fazia pequenos serviços agrícolas e domésticos, mas vendo que os benguelenses também emigravam para Benguela, decidiu seguir-lhes as peugadas.

“Assim vim e estou agora em Viana”, contou. Encontramo-lo no mercado da Estalagem onde faz “robota” depois de ter tentado no Asa Branca e num armazém no Rangel.

Entre os roboteiros também há conflitos entre grupos constituídos. Umba conta que há bons lugares. Normalmente lojas ou armazéns com muitos clientes são bastante concorridos pelos transportadores.

“Quando já somos um grupo não admitimos mais que vem alguém nos tirar o pão”, explicou.

Segundo o interlocutor o período das chava é o mais produtivo devido à intransitabilidade em muitas ruas da capital. Os preços cobrados dependem do volume e da distância, variando entre kz 200 a 300 para cargas como geleiras e televisores. Um saco de cimento custa de kz 50 a 150, aplicando-se a mesma tarifa ao saco de arroz, caixas de massa alimentar e de óleo.

O consumo de bebidas alcoólicas é frequente entre os roboteiros. Facto que Umba justifica como sendo “para dar coragem e força”. Há também os que fumam liamba mas eu não, concluiu.

Benguela, Kuanza-Sul, Huambo, Bié e Malanje, são as províncias que mais roboteiros “forneceram a Luanda”. Quando nos dirigimos para as capitais provinciais notamos que o trabalho é efectuado maioritariamente por pessoas oriundas de municípios do interior. É o caso de Ernesto Upale que se dedica ao transporte de mercadorias no mercado do Chissindo, no Kuito. Upale é de Kamakupa e foi, também ele, forçado pela guerra a refugiar-se na cidade capital da província, onde reside até hoje.

Madalena Afonso é funcionária pública e faz preferencialmente as suas compras aos fins-de-semana. Madalena conta que serve-se frequentemente dos roboteiros para carregar as compras que faz, normalmente para duas semanas. Madalena contou que apesar de possuir carro prefere estes jovens porque a ajuda é mútua. “Eles precisam de viver do seu trabalho e eu preciso de poupar esforço. Dai que cada um ajuda ao outro.

José Almeida efectua obras de restauro na sua residência e para a compra do cimento vimo-lo também a fazer recurso aos roboteiros, argumentando que eles prestam um serviço útil à sociedade.

Luciano Canhanga
(Foto roubada do blog do Patissa)

quinta-feira, maio 01, 2008

RECONTRUÇÃO, INCIDENTES E ACIDENTES

(Crónica de viagem)

Aos poucos o país se vai cicatrizando. É tanta obra que não se sabe quando vai parar, como musicado por Yuri da Cunha. De norte a sul e do Oeste ao Leste cruzam-se caminhos. Vêem-se novas infraestruturas que brotam. Umas surgindo do nada e outras de antigos escombros.

Trabalhos de manutenção correctiva e preventiva também acontecem um pouco por todo o país. As novas estradas, talvez por se constituirem em novidade dos nossos tempos, tornaram-se “caminhos da morte”. São inúmeros acidentes registados todos os dias no país. Se ontem eram as minas e os buracos, hoje é a velocidade e a imprudência que mata.

Defendem os automobilistas, sobretudo os camionistas, que a noite é mais cómoda para a condução, embora as estradas não estejam iluminadas e completamente sinalizadas. Eles são os donos do ofício e não há que inventar argumentos contraditórios. Só não encontro motivos para a pressa e a imprudência que causam tantos acidentes em estradas novas. E mais. Ao lado dos acidentes perfilam também os incidentes.

Próximo do Waco-Kungo encontramos essa máquina retro-escavadora (na foto) que acabou por cair num buraco por ela mesma efectuado quando desentorpecia um aqueduto. Para retirá-la, a circulação teve de ser interrompida durante mais de uma hora. E mesmo assim não se resolveu a situação. São horas e recursos que se perdem. Milhares de kuanzas e muitas vidas, sobretudo, em acidentes de viação. Esta mesma estrada, a EN120, levou o nosso Armando Gomes “Culau” e muitos outros condutores anónimos. Mais prudência, meus senhores!



Luciano Canhanga