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quarta-feira, dezembro 31, 2008

OLHANDO ATRÁS (2008)


Os últimos dois meses de 2007 e os primeiros 5 de 2008 foram tenebrosos.
Mas deu para equilibrar situações. Aliás, as crises são grandes escolas. Do ponto de vista familiar há a assinalar algumas consolidações e do ponto de vista material há igualmente pequenos avanços.

Há projectos em carteira como a da A-RIR (agência) e da FB (Fazenda) este com mais passos dados.

Os pés deixaram de gastar sola (mais graças ao patrão do que à poupança). Em 2008 voltei à renda, mas com dias contados. Consegui um espaço para auto-construção e se correr bem, pode ser que, em 2009 se resolva este défice.

Luciano Canhanga

terça-feira, dezembro 30, 2008

A CIRCUNCISÃO ENTRE OS KIBALA E LUBOLO

Tenho-me guiado na coragem do Reverendo Gabriel Vinte e Cinco que tenho como guia espiritual neste “reencontrar origens” e procuro dedicar-me à causa que é "trazer a verdade sobre os Ambundu do Kuanza Sul".

E tento hoje abordar de forma vivencial a circuncisão entre os Ambundu do Kuanza-sul (Lubolo, Kipala, Kissama*, Haco e Sende)1.

Ao contrário dos Bakongo que por norma efectuam a circuncisão à nascença, os povos do Libolo e Kibala mandam os rapazes para a "casa de água" (onzo-y-mema)2 na adolescência ou na segunda infância, aí entre os seis ou sete aos quatorze anos de idade.

O acto, a circuncisão, chama-se Ù-tina. Consiste no corte do prepúcio. Se nas sociedades modernas tal cirurgia é efectuada por um médico ou para-médico, nas comunidades tradicionalistas é chamado um "mestre" (mesene) para o fazer. Normalmente, o "mestre" fá-lo à sangue-frio. Aconteceu comigo em 1982.

Aos olhos dos garotos, o "mestre" é tido como um individuo de olhos ensanguentados, talvez devido à enorme quantidade de sangue que fez derramar e que seus olhos já viram. É um individuo muito temido pelos rapazes incircuncisos que se apavoram à sua passagem, sendo igualmente respeitado pelos pais. A enfrenta-lo ficam apenas aqueles que não têm outra saída senão este desafio de vida ou morte e que lhes dará um novo estatuto social na comunidade.

A operação acontece, normalmente, junto a um ribeiro e bastante isolado da aldeia, para que estranhos não visitem os circuncidados, tão pouco haja contacto entre mulheres gestantes e os cadetes . O makiakia ou kaporroto 3 serve de esterilizante da navalha do "mestre" depois de cada operação cirúrgica.

Um ajudante ou um parente próximo dos mancebos ajuda o mestre, agarrando as mãos e prendendo igualmente as pernas do “paciente”, imobilizado-o.

Terminada a operação, o cadete senta-se em uma pedra ou um tronco onde deixa escorrer o sangue da cirurgia e lhe são colocados alguns “milongos” à base de folhas medicinais . Durante os curativos são ainda usados medicamentos como o mercuriocromo, tintura de yodo e a penicilina.

O período que demora a cicatrização é também de aprendizagem de várias artes e ofícios, como: caçar e pescar e são também transmitidas aos noviços noções sobre a sexualidade, vida familiar e social, bem como a feitura de armadilhas e utensílios.

Njine é a designação atribuída ao pénis circuncidado, ao contrário de Kifutu (incircunciso). Um homem que tenha “passado pela faca” ganha na sociedade um novo estatuto. Torna-se um homem maduro. Por isso, a própria sociedade condena determinadas acções como: tomar banho desnudado e em público, pois o individuo circuncidado é tido como um homem que deve ser respeitado e diferente dos outros rapazes, ainda que da sua idade, que não tenham passado pela “casa de água”.

A alimentação dos cadetes é feita de forma cuidada e selectiva. Não se alimentam de ervas e só pessoas que não mantenham relações sexuais durante o “aquartelamento” podem cuidar quer da alimentação, quer da guarda, dos circuncidados. Ovos e sal (por excesso) estão fora da dieta. Dizia-se no meu tempo que não se comia do bem e melhor do que no acampamento dos circunciso.

Só depois de curado o último mancebos é que o grupo regressa à casa, mas antes, os "novos homens" da comunidade procuram encontrar uma bananeira, em cujo caule fazem uma perfuração em que enfiam a "pontinha" do membro (diz/ia-se que era para escurecer a cicatriz). Em zonas com existência de imbondeiros o orifício é/era feito no caule desta árvore (a lenda atesta que tal acto dá grandeza ao órgão reprodutor.)

No fim de tudo, quando cumpridos todos os passos e rituais, uma zagaia (arco) e uma flecha (honji li musongo) são entregues a cada um dos cadetes que perfilam e caminham até à aldeia... Cada mancebo exercita disparando a flecha contra a porta de casa (podem ser várias casas indicadas) e são-lhe dadas algumas oferendas.

É ponto assente que ao longo dos anos muitos cadetes não resistiram a hemorragias e sucumbiram, o que tem levado as comunidades a encontrar um meio termo entre o moderno e o tradicional. Um enfermeiro, em vez de um artesão; lâminas individuais em vez de uma faca colectiva; anestesia em vez de à sangue-frio; entre outras inovações de que sou apologista, mas sem que desvirtue ma vertente social e educativa da circuncisão.

Não há, nesta região, registos orais sobre ocorrência, mesmo em períodos muito recuados, de incisão genital feminina, tão pouco de acampamentos de iniciação de raparigas que entretanto se casam muito cedo, comparativamente aos centros urbanos. A sociedade rural Libolense e Kibalense é permissiva à poligamia, condenando, porém, veementemente o adultério feminino e a poliandia que são sancionados com avultadas multas pecuniárias ao homem infractor, bem como de castigos físicos.

O Soba, entidade administrativa da aldeia, também administra a aplicação da justiça comunitária com base no direito consuetudinário.

Os tempos modernos são de busca de combinação entre o moderno e o tradicional, encontrando-se já os sobas a trabalhar lado a lado com os secretários de aldeias, os administradores comunais e os chefes das esquadras policiais mais próximas, buscando um equilíbrio entre o direito positivo e o costumeiro.

*Kissama foi até à criação da província do Bengo foi território sob jurisdição da província do Kuanza Sul. Foi igualmente, tal qual o Libolo e outras, regiões ambundu, dependência do Rei Ngola.

1- VINTE E CINCO, Gabriel: Jornal de Angola, 28/12/2008

2- Local da circuncisão.

3- Bebida alcoólica destilada à base de cana, banana, milho e outros produtos fermentados.

Luciano Canhanga

quinta-feira, dezembro 25, 2008

MAIS ADULTOS MAIS “INÚTEIS” NOS SENTIMOS


ENQUANTO MAIS ADULTOS NOS TORNAMOS, MAIS “INÚTEIS” NOS SENTIMOS
A ideia de que se pode viver sozinho ou com base em nossas convicções se esvai. A cada ano que passa conclui-se que precisamos sempre de uma “muleta” que pode nem ser a desejável, mas apenas a aceitável.

Comente!

Na foto: Émile Durkheim, pai da sociologia contemporânea

Luciano Canhanga

segunda-feira, dezembro 22, 2008

INQUÉRITO D’ANGOP DIZ QUE PETRO É “PAI GRANDE”


Qual a sua equipa de futebol preferida?

1º de Agosto

ASA

Interclube

Petro

O universo de votantes é desconhecido, mas sei que o inquérito mora na página on line da Angop há já muitos meses.

E os números são esclarecedores. Um ponto percentual a separar os arqui-rivais. Se no voto popular a votação podia ser vista doutra maneira, aqui na net, onde mandam os alfabytezados é o Petro de Luanda quem manda. E o inquérito só peca por não ter o Recreativo do Libolo e o Kabuscorp do Palanca que têm arcaboiços para “surrar” o Inter ou mesmo o ASA. Quem vai aos campos de futebol vê isso. As enchentes falam tudo, ou não?

1º de Agosto

46.0%

ASA

6.0%

Interclube

1.0%

Petro

47.0%

Luciano Canhanga

sexta-feira, dezembro 19, 2008

UM ASSOBIO NA CASA DO REI


"KUMBI LYUTUNGA ZEMBA LYU XIKA MUIXI" (o dia de construir o palácio é o de tocar assobio). Assim dita a sabedoria Ngoya*.

Como descendente de família real do Kuteca (só quem é do Libolo terá ideia disso) sempre tive essa lição na mente sem a ter vivido de facto. E aconteceu agora, longe do "meu palácio" mas diante de um Palácio real lunda-cokue.

A maior diamantífera angolana decidiu construir, de raiz, uma residência oficial para o rei lunda-cokwe, Mwene Mwatxissengue Wa Tembo cuja entrega aconteceu a 18.12.08. Políticos, empresários, súbditos e jornalistas fizeram-se presentes ao acto. E de repente lembrei-me do dito popular lá da minha terra. "KUMBI LYUTUNGA ZEMBA LYU XIKA MUIXI".

Liguei a lâmpada p'ra ver se acendia e acendeu. Visitei os quartos que serão os aposentos da realeza. Experimentei a torneira do WC., etc.

Será que terá um súbdito desligado da realeza uma semelhante oportunidade naquele palácio?

"KUMBI LYUTUNGA ZEMBA LYU XIKA MUIXI". E assim puxei das cordas "o assobio meu" (sic Teta Landu).

* Há vozes discordantes quanto ao nome da língua que se fala em grande parte do Kuanza Sul.

Luciano Canhanga

sábado, dezembro 13, 2008

AGRICULTURAR(?)



Depois da queda acentuada da cotação internacional do preço do petróleo e do d(e)i(à)amante e todo o arrasto e arraso que isso provoca, muitos vociferam agora para "um olhar mais atento à agricultura".

Com certeza que podem baixar de valor o ouro negro e as pedras preciosas(?), mas os seres viventes sempre precisarão de comer.

Assisto também muitos idosos, reformados, rumarem para os campos de onde partiram há décadas, para em vez de usufruírem da pensão de reforma, aplicarem os míseros em compra de terrenos, lavoura e criação de instalações habitacionais.

Eu, desde 1984 em Luanda, procedente da aldeia de Pedra Escrita, Libolo (Kuanza-Sul), nunca me desliguei, na verdade, do campo. Lá está a mãe, os amigos de infância, das caçadas, das pescarias nos rios, das surras dadas pelos irmãos mais velhos e das incompreensões dos pais, quando mais atrevidos ou "olhudos" nos tornássemos. Que saudades do Faria esse meu grand'amigo!

Assim, de tempo em tempo e de prosa em prosa, tenho aos poucos investido no campo. Uma terra virgem com um pequeno ribeiro a cortá-la, umas mandioqueiras para começar e umas frutícolas para o médio prazo, é o que faço de momento.

Pena é que faltam tractores para alugar e dinheiro para os comprar... E se a Mecanagro tivesse olhos para negócios dar-nos-ia muito jeito, já que os muitos moradores que se dedicam exclusivamente à agricultura de subsistência, muito precisam de abrir novas picadas e novos campos que podem inundar de produtos agropecuários as cidades e vilas improdutivas.

Preciso apenas de fazer o inverso do que assisto. Preparar agora o meu ninho. Fazendo já a casa e a sombra que me há de acolher se lá chegar. À velhice, claro! Porém, uma pergunta me persegue: Sendo jornalista de formação e profissão, sem curso agrícola, mas com bastante conhecimento de senso comum e vivências agrícolas, devo continuar a "agriculturar"(?).

Na foto: A obreira Maria Canhanga (esq.) e sua sobrinha Rosiana da Cruz.

Luciano Canhanga

segunda-feira, dezembro 08, 2008

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: QUE FAZER?


O PORQUÊ DA POUPANÇA

ANGOLA produz(ia) 2 milhões de barris de petróleo ao dia que até Agosto eram comercializados ao preço MÉDIO de 147 dólares norte americanos. o barril de petróleo baixou para menos de usd 45 o que significa uma redução de usd 100 por unidade.

Multiplicando os 2 milhões de barris por usd 100, o país perde diariamente 200.000.000 (duzentos milhões de dólares. O mesmo se passa no ramo dia diamantes onde o valor do produto baixou um terço do seu valor.

A maior diamantífera angolana que produz(ia) 75% do total dos diamantes angolanos no mercado internacional e com cerca de 45% do total da facturação, perde UM TERÇO do valor total de receitas.

Se atendermos que a empresa tem cerca de 3 mil trabalhadores que mantêm todos os seus direitos adquiridos ( salários, subsídios e demais compensações pecuniárias) e se termos em conta que é fulcral a contribuição da Companhia no erário público, compromisso que não pode ser relegado para outro plano que não seja o primeiro, é caso para dizer. TEMOS DE POUPAR para não forçar a companhia a tomada de medidas como as que vêm sendo anunciadas por outras similares.

Lembro, por exemplo, que a VALE (Brasil) mandou p’ra casa mais de 1800 funcionários ao passo que outros 5500 viram-se “forçados”a gozar férias colectivas.

E para aqueles que diziam que a crise financeira internacional passaria ao largo de Angola, estão aí as contas, ainda que num ensaio menos profundo.

Ninguém está imune e a salvação depende do esforço colectivo e de cada um. Em casa, no serviço e nos serviços públicos. POUPAR E DIMINUIR CUSTOS EM TODAS AS VERTENTES!


Luciano Canhanga

segunda-feira, dezembro 01, 2008

GOVERNO SATISFAZ PEDIDO DE ALDEÕES NO LIBOLO


Já muito se escreveu neste semanário sobre o Libolo e os passos dados no desenvolvimento do município. No artigo que assinei em Agosto, edição de 27 a 03 de Setembro, foquei por exemplo da falta de uma escola e de um Posto médico na localidade de Pedra Escrita que conta com mais de 2 mil almas.


A fazer fé nas preces daqueles petizes que apenas queriam sentar-se diante de um mestre e dele “beberem” conhecimentos, o executivo de Serafim do Prado, o governador do Kuanza-Sul, tomou como preocupação atender a sscola e prom,eter para breve o posto médico. E é verdade que a escola aguarda apenas pela inauguração que pode acontecer antes do início do próximo ano lectivo.

“Disseram-nos que será em Janeiro ou no 4 de Fevereiro”, confidenciou Cornélio Njamba, o secretário da aldeia.

Construída raiz, a escola possui 6 salas de aulas, gabinetes para o director e para os professores, casas de banho para alunos e alunas e uma arrecadação, sendo mesmo a primeira escola do género construída na localidade desde a independência nacional.

Para Maria Massaca que pela primeira vez vai ver os seus netos a frequentarem a escola, depois de 1983, a satisfação é incontida. “Sempre pedimos nas reuniões e hoje Deus nos abriu a porta, com essa escola já não precisam de ir a Luanda ou ao Dondo para estudar”, disse a septuagenária.

A aldeia de Pedra Escrita fica a meio caminho entre o desvio de Calulo e a ponte do rio Longa, no sentido Dondo/Kibala.

Luciano Canhanga