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quinta-feira, fevereiro 24, 2011

O JORNALISTA, O ESCRITOR E O ASSESSOR DE IMPRENSA

ENTREVISTA AO SEMANÁRIO ECONÓMICO EXPANSÃO

1 – Jornalista. Escritor e Assessor de Imprensa? Onde se sente melhor?

– Digamos que o que faço de momento é a assessoria de imprensa na qual me sinto bem. Sinto valorizado e respeitado o meu trabalho e ali encontro equilíbrio emocional. "Quem corre por gosto não se cansa"- Diz o velho adágio. Apesar de haver muito quem tenha a ideia de que os assessores não passam de "recadistas" das respectivas direcções. Confesso que antes também pensava que os assessores de imprensa, vulgarmente chamados de porta-vozes, se limitavam a redigir, ler e/ou enviar comunicados de imprensa. O trabalho é muito mais árduo do que se pensa. Mas quando as coisas correm bem, e o trabalho é valorizado, sinto-me satisfeito comigo mesmo.
– A literatura é algo que há bem pouco tempo saltou do permanente campo batalha que são os nossos sonhos para a vida real e que vou exercitando, procurando superar-me a cada momento, com a noção de que se é aprendiz até ao resto dos nossos dias.
– Quanto ao jornalismo, este é o meu vício. Repito e reforço, meu grande vício. Porém, a questão deontológica coloca-me fora do campo. Não posso ser árbitro e jogador, mas vou exercitando no meu blog (www.mesumajikuka.blogspot.com) e acedendo a pedidos de alguns amigos virtuais para o exercício gostoso e saudável de deixar ali meras opiniões. Nada de notícias ou género informativo, por enquanto, mas como dizem os crentes, e bem, o futuro a Deus pertence.
2 – Sei que, enquanto adolescente, desejou ser agrónomo. Alguma razão o atrapalhou?
– Nasci no campo, no Libolo, num mundo rodeado por campos "agricultados" e tinha uma ambição, enquanto filho de um camponês: sonhava ser como os senhores engenheiros que se deslocavam de vez em quando às fazendas para fazer a vistoria e dar conselhos. Depois quis ser engenheiro de minas, encantado pela imagem que via dos geólogos que faziam pesquisas por aquelas paragens, vestidos com calções de caqui e botas, empunhando martelos e outros instrumentos.
 Em 1992 cheguei mesmo a tentar o Instituto Nacional de Petróleos para o curso de Geologia e Minas mas aí foi a guerra a impedir-me de lá ficar, pois a mãe estava no Libolo e o lar de estudantes estava cheio.
– Tentei ainda ir ao Quéssua aonde o Instituto de Agronomia tinha sido aberto (e sem testes) mas a guerra, como sabemos, vai minando a vida de muitos e os sonhos de tantos. Aguardei pelo novo ano lectivo e acabei por entrar, através de testes, no IMEL onde vim a completar o curso de jornalismo.
3 - Em que circunstâncias aconteceu a mudança do jornalismo para a assessoria?
– Tive momentos felizes no jornalismo. Não teria sido o que sou se a LAC não me tivesse dado a oportunidade dos nove anos lá feitos. Depois chegaram de Portugal a Paula Símons e o Ismael Mateus que foram os meus padrinhos, profissionalmente falando. Estes apostaram em mim e penso que não os decepcionei. Porém, a renda, aquilo com que se mantém uma família, era verdadeiramente irrisória. O acidente que sofri em 2005 no qual pereceram dois colegas foi a gota que fez transbordar o copo do gosto pela profissão. Saído do hospital, senti imensas dificuldades financeiras o que me fez pensar noutro patrão, onde pudesse sentir um pouco mais de segurança. Quando surgiu a oportunidade para uma entrevista que me levaria a elaborar um projecto de gabinete de comunicação para a Catoca não hesitei e aqui estou há já cinco anos.
3 – Muitos jornalistas encaram a assessoria como uma meta, necessária, a alcançar. É assim que pensava enquanto esteve no jornalismo?
– Liminarmente não. Gosto de desafios. O que eu pensava da assessoria de imprensa era que ela fosse o "repouso dos cansados ou comodistas". Hoje tenho uma visão muito diferente. Fui à assessoria porque depois de experiências num curso que fiz em Lisboa e do curso de Comunicação Social que já frequentava no ISPRA dei-me conta que a assessoria era muito mais do que os leigos pensam. Assumi o desafio de começar algo do nada e montar uma máquina. Hoje dou palestras aos miúdos do IMEL, vou esclarecendo coisas e desmistificando mitos.
4 – E que análise faz desta forma de pensar?
– É verdade que há quem, depois de dar ao jornalismo o que devia, vai à procura de um trabalho mais brando. E também é verdade de aqueles que encontram na assessoria uma casa já arrumada e uma equipa competente, se calhar, se sintam mais à vontade.
– Mas não foi esse o meu caso, creio que felizmente, tendo em conta o meu modo de ser e de viver.
– Aqui, estou sempre ao serviço, 24 horas por dia. A pressão é tanta que há momentos em que sinto saudade do trabalho em turnos que é vulgar no jornalismo. Fazer uns "kadiengues" no turno de folga, também faz parte da nossa vida, não é verdade? Mas aqui não há horários, nem rotinas. Há sempre algo para fazer que não pode ser adiado. E a adrenalina acaba por ser um vício gostoso…
5 – Pensa um dia voltar a dedicar-se 100% ao jornalismo?
– Se for empurrado para estas circunstâncias volto a 100/%. Tenho pensado que podia fazer uma espécie de part-time. Mas admito que possa um dia trabalhar apenas para não ter filhos a morrer de fome. Acho que o nosso jornalismo, o generalista, se depreciou um pouco. Se calhar os escribas que já foram muito activos, em dizer as coisas tal qual elas são, ficaram sem espaço de manobra. Compreendo que têm filhos e a dor do estômago vazio é maior do que qualquer outra do fórum deontológico ou ético. Basta estar atento ao que se veicula hoje em muitos dos nossos medias e logo se vê que até os destemidos jovens d'outrora perderam a coragem de dizer que "é aquilo que é e não é aquilo que não é".
6 – Que análise faz do estado actual do jornalismo angolano?
– É um jornalismo que se pauta por alguns excessos: de conservadorismo por um lado e também de especulação por outro lado. O ideal seria o centro, um jornalismo virtuoso. Mas pode ser que eu seja apenas um utópico. Estou fora do campo e desconheço como se vive lá dentro. Um jogador diria que sou uma carta fora do baralho…
7 – Em que circunstâncias decidiu mostrar o seu lado de escritor?
– Comecei por escrever pequenos contos e algumas crónicas. Mas os meus colegas do IMEL já diziam que eu tinha queda para crónicas, embora a rádio me tivesse "cortado" a apetência para textos longos (risos). O blog foi o sítio dos meus ensaios, a rampa de lançamento, digamos assim. Os comentários e as críticas motivaram-me a melhorar e depois foi só encontrar quem me ajudasse a sair de uma escrita amadora para literária. Estes grandes kotas foram o José Caetano e o Armando Graça que ainda me apadrinham nesta caminhada. Está agora em fase de revisão "O Relógio do Velho Trinta" e já bato portas para publicar o poemário "10 Encantos" que agradeço, façam chegar o recado a quem quiser apostar em mim.
8 – Até que ponto é verdade a seguinte afirmação: o escrito Soberano Canhanga retrata no personagem Kaúia a pessoa do cidadão Luciano Canhanga.
(Risos)
– Vou re-explicar. O Sonho de Kaúia não é o sonho do Canhanga, nem o Kaúia é o Luciano. Optei por um estilo narrativo que herdei do jornalísmo. A certa altura um amigo meu dizia que "tinha que meter os personagens mais à vontade, a conversarem mais". Há situações narradas de forma pintada que vivi, assisti e outras de ouvir contar, mas narrados sempre na perspectiva de ficção. Nada do que vem narrado no livro é perfeitamente verdadeiro. Usei, com certeza, nomes de pessoas que me são próximas como personagens de factos que nunca viveram ou fizeram. Foi uma forma de as homenagear. Maria é minha mãe e Ferreira o irmão dela. Mas nada do que "lhes meti na boca" fizeram. E tive antes o cuidado de falar com a minha prima e a minha mãe para que não se sentissem mal quando saísse o livro que gostaram imenso.
9 – Depois do Kaúia. Quais os outros desafios no ramo literário?
– "10 Encantos" é um poemário que só precisa de uns USD 5000 para a editora Baixa Chiado de Lisboa poder disparar o tiro na gráfica.
– "O relógio do velho Trinta" está em fase de revisão. Este romance - ficção terá de sair bem maduro e melhor do que o "Sonho de Kaíua". Por isso não tenho pressa em que ele veja a luz.
10 - Jornalismo, Assessoria e Literatura. Quais das profissões melhor atende as suas necessidades socioeconómicas?
(Risos)
– A literatura não me deu sequer um tostão e não sei se algum dia dará. Imagine que até compro os meus próprios livros para oferecer a amigos que pedem encarecidamente.
– O jornalismo fez-me no pequeno homem que sou e sem ele nunca chegaria a candidato a escritor.
– A assessoria abriu-me outros horizontes. Hoje já me tratam por senhor Canhanga ou Dr. Canhanga, título que nego pois apenas sou licenciado. Consegui na assessoria o que nunca teria conseguido onde estava antes. Penso que a questão tenha a ver mais com o patrão do que com a profissão. Há gente da minha leva que vive cinco vezes melhor do que eu e nunca concluíram um curso superior, nem são dos melhores jornalistas da praça. Apenas uma questão de conveniências.
11 – "Casa Própria: Quase Lá". Que mensagem pretende passar?
– Apesar de nunca ter beneficiado de facilidades do patrão, do partido ou do Estado, estou a construir a minha toca.
– Quem frequenta o meu blog, acompanha o esforço que faço e as imagens vão falando por si: pedra sobre pedra até concluir a casa. É possível!
– Termino dizendo aos outros jovens que não adianta esperar pela sorte, que nem todos a têm, ou ficar-se pelos lamentos. É assumindo os desafios que lá se chega!

sábado, fevereiro 19, 2011

PALANCAS OMNÍVORAS DEVORAM LEÕES

Confesso que nunca acreditei na presente selecção angolana de futebol que disputa no Sudão o CHAN. Considerei um mero exercício de sorte os empates diante da Tunísia e Senegal que valeram dois pontos a que se acresceu a tangencial vitória de 2-1 diante do Ruanda. Nos quartos de final, diante dos Camarões, nem mesmo os mais optimistas acreditavam num "taco-a-taco" frente aos indomáveis leões que sempre fizeram dos nossos campos a sua coutada em reencontros passados.

Desta vez o registo que fica para a história é porém diferente. A selecção angolana, mesmo sem ter marcado qualquer golo nos 90 minutos do tempo regulamentar, domou completamente os leões. Passeou e morou na "toca do leão" sem que pagasse alguma renda ou coisa parecida. Foi pena que o golo não tenha acontecido enquanto fizemos dos “temíveis” leões gato e sapato, sendo o jogo levado até ao prolongamento de trinta minutos repartidos em duas metades de quinze.

Já sem força nos trinta minutos adicionais, Angola "abandonou a toca do leão" mas aguentou a perseguição do “felino” até ao fim do prolongamento. Na marcação de penalties, onde é a sorte e a confiança quem mais ordenam, Angola acreditou que podia virar o jogo. "Caiu por cima do leão" mesmo quando tudo apontava para uma passagem dos camoroneses à fase seguinte, dado a falha de um penalty por parte de um jogador angolano. Só que o camaronês que selaria o golo da consagraçào acabou atirando a bola por cima da baliza e da mesma forma como falharam o quinto penalty voltaram a falhar o oitavo quando os Palancas, autoconfiantes na segunda fase dos tiros à baliza, aguardavam apenas pelo insucesso do adversário. E não é que o leão "mordeu mal o osso"?

Oito bolas introduzidas na baliza dos camaroneses contra sete  que Lamá não pôde defender conferiram o Passa Porte para as meias finais do CHAN.

Que venha o Sudão!

terça-feira, fevereiro 15, 2011

A NOVA "ONDA" DOS LADRÕES

Danny, diz ao papá para tirar a arma. Há gatunos no quintal. - Disse a senhora aflita perante a presença de dois intrusos no quintal: um homem e uma mulher.

Era madrugada do dia dos namorados. Se não fosse a voz alta da mulher os larápios teriam conseguido os seus intentos: roubar qualquer coisa de valor no quintal ou memso forçar/arrombar a porta da casa e ... pilhar, matar, pintar o diabo... E quem os visse depois sairem de mãos dadas e imambas à cabeça ou às costas, pensaria tratar-se dos donos de casa. 

É essa a nova onda dos amigos do alheio andarem aos pares - homem e mulher- para confundirem a vizinhança e até mesmo a polícia.

Fique atento. Aconteceu comigo, o próximo pode ser você.

domingo, fevereiro 06, 2011

ACOLHIMENTO DE MENINAS: UM EXEMPLO QUE VEM DE SAURIMO

Nos dias que correm em que o apego material nos remete a pensar mais no EU do que nos outros, com gestos de solidariedade muito escassos, acolher em casa crianças desconhecidas é obra cada vez mais rara.

Mas há quem ainda conserve os "velhos" sentimentos de amor e sencibilidade em relação a dor e sofrimento do próximo. Uns apoiando as instituições vocacionadas para acolher os desfavorecidos, uns tomando, eles mesmos, as rédeas, fazendo de suas casas familiares autênticos lares de acolhimento de menores e outros lançando apelos e divulgando os bons exemplos para que outras pessoas os sigam.

Em Luanda, por exemplo, tornaram-se conhecidos os exemplos do Padre Horácio ao Palanca, o Centro de Acolhimento da Praia do Bispo, o CAMEHA- Centro de Acolhimento de Meninas Horizonte Azual, em Viana, entre outros que acolhiam/acolhem/ meninos de rua/na rua. Mas nas provincias do interior,  onde a guerra e os seus efeitos foram mais devastadores, onde as oportunidades financeiras das famílias são cada vez manores e insignificantes as possibilidades das autoridades governamentais e afins fazem face à demanda, quem cuida do apoio, sobretudo, as meninas desprotegidas e sem familias?

Da Lunda Sul (Saurimo) trazemos um exemplo que por ser pouco ou nunca divulgado pela media achamo-lo merecedor desta prosa. Natália Ikulo é uma senhora comprometida com o assistencialismo social. Trabalha na representação do MINARS e fez da sua residência privada um centro de acolhimento de meninas e meninos desprotegidos e renegados que sem a sua mão estariam ou sem vida ou em condições de vida deploráveis.

Conta que "existiu um ensaio de 'casa de meninas' em Saurimo (iniciativa da igreja Católica que possuia uma residência num dos bairros) que albergava cerca de trinta de meninas. A coisa evoluia com a inter-ajuda entre o MINARS e a Igreja", disse, mas um dia a madre responsável entendeu constituir família e depois adoeceu a senhora que cuidava das meninas. "Sem a madre e sem a velha que cuidava delas,  temendo-se que acontecesse o pior com as meninas,  a casa foi encerrada,". Aflita, a directora da Assistência e reinserção Social, só teve uma solução: levá-las (cerca de trinta) para a sua residência particular.

"Atendendo que o lugar da criança é na família, com o tempo fui me informando de quais delas tinham familiares próximos com possibilidades financeiras e de acolhimento e iniciei a reunificação familiar daquelas que era possível. Mesmo assim fiquei com umas dez e o número se vai mantendo, atendendo as que se casam e as novas crianças que entram", explicou e vimos no terreno.

"A menina mais nova tem uns 4 anos e foi-lhe entregue com dias, estando o rapaz 'caçula', negado pelo pai depois da morte prematura da mãe, com já sete anos", contou orgulhosa.

Exemplos como esse, o da dona Natália Ikulo, merecem elogios, incentivos e divulgação. Para que mais pessoas sigam o seu caminho e se possa dar um sorriso a crianças que dele necessitam.

Façamos a nossa parte, apoiando instituições e famílias que albergam crianças em situação difícial, recolhendo, pelo menos, uma criança em nossa casa e contribuindo com o "nosso pouco".

Lembre-se que gestos simples produzem grandes obras: A comida que todos os dias deita ao lixo pode sustentar mais uma boca. A roupa que deita fora porque está fora de moda pode vestir uma criança carenciada... Há sempre uma formas de ajudar a tornar este mundo mais feliz.  

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

CASA PRÓPRIA: QUASE LÁ

LENTOS, MAS SEGUROS.

Pedra sobre pedra, ou seja, bloco sobre bloco. Apenas interropidos pela ferragem que é imprescindível à resistência e solidez da moradia, vamos caminhando a caminho de 2 anos (Agosto) e a caminho da casa própria.
O que se vê por perto é o anexo que vai acolher um negócio qualquer. À direita a casa mãe, cuja primeira fase aguarda apenas pela colocação da lage.

Enquanto as estruturas vocacionadas para dar casa aos jovens vão titubiantes ou enchendo os discursos da praça pública com falsas promessas, cá vamos nós: Lentos, mas seguros... Olhando a meta.