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segunda-feira, abril 23, 2012

DIÁRIO DA CHUVA

Choveu em Luanda.

Os agricultores estão alegres. Está, entretanto, dificílimo contactar os idosos. Estão  todos nas "hongas" a aproveitar o regadio natural e lançar sementes à terra.

Doutro lado, porém, só lamentos e "muxoxos" dos administradores da coisa pública. A chuva, o melhor fiscal d´obras, chegou. Está tudo à mostra. Faltam arruamentos por concluir, casas por construir, lixo por recolher, águas por drenar, enfim. Foi desfeita toda a maquilhagem e "a mulher enfeieceu".

Depois dos lamentos virão as desculpas de sempre. A falta de chuva que não deixa as barragens produzirem energia eléctrica, a mesma chuva que, quando cai, derruba os postes, cabos eléctricos e outros estragos que no dizer dos "dimixi" fazem com que não tenhamos, nunca, nem água canalizada nem energia eléctrica domiciliar.

Choveu em Luanda, mais uma vez e os resultados e desculpas estão à montra!

quarta-feira, abril 18, 2012

A MINHA RELAÇÃO CONFLITUOSA COM AS MOTOS

Por que me perseguem as motorizadas?

Em menos de nove meses, três foram os acidentes e incidentes com motorizadas. O primeiro aconteceu a 25 de Junho de 2011, em Luanda. Estava a atravessar a estrada. O agente regulador mandou parar o trânsito, mas lá vinha um guineense de Conacri, sem licença de condução nem passaporte, projectando-me contra uma viatura. Por pouco não fui dessa para melhor! Benevolente, embora tivesse retido a motorizada em minha casa, acabei por devolvê-la ao dono sem outras exigências ou denúncia à polícia.
A segunda foi na segunda semana de Janeiro de 2012. Dirigia-me ao Centro Integrado Zwo Lyetu, em Saurimo. Na passadeira, junto à escola do Kandembe, liguei o intemetente e parei o carro para deixar os alunos atravessarem a estrada. Distraído, como disse, um jovem que não possuia nenhum documento embateu contra a parte traseira da carrinha que eu conduzia, quebrando o stop. Por sorte, havia um polícia trânsito na cercania que rapidamente cuidou do assunto. Levamos a motorizada e o jovem à esquadra mas o polícia de transito de Saurimo não pôde responsabilizá-lo. Inicialmente o jovem comprometeu-se em ressarcir os danos provocados na carrinha, mas depopis de uma conversa entre o jovem e o agente que cuidava do caso (em língua nacional Cokwe) o assunto ficou  em águas de bacalhau. E o polícia subiu mesmo "à cátedra da sua petulância", aconselhando-me a levar o jovem (eu sozinho) à sua família para que se responsabilizassem dos danos... Foi todo o dia perdido na esquadra sem que me fosse passado um papel sequer a atestar que estive na esquadra por causa de um rapaz que embateu na carrinha.

A terceira foi a 16 de Abril. Saia da Faculdade para casa quando um rapaz montando uma motorizada, êbrio e em contra-mão, veio ao encontro da carrinha conduzida por mim. Dada a eminência do perigo imobilizei a carrinha mas, mesmo assim, o jovem, qual suicida, jogou-se frontalmente contra a Hilux, estatelando-se depois no asfalto, já sem noção do que se passava à volta. Mais uma vez havia um agente regulador de trânsito que rápidamente chamou reforço, evitando assim que a viatura fosse vandalizada, como é hábito destes povos. Levado o motard ao hospital, na companhia de dois polícias de viação e trânsito (21h30), fui depois  solicitado a passar pelo local do sinistro onde recolhemos a motorizada em direcção ao comando policial. Até aqui parecia tudo a correr bem, se não fosse a solicitação dos meus documentos pessoais e da viatura, passando eu de vítima a vilão. Foram horas de sofrimento. Pior seria se não tivesse recebido a visita de Adão Diogo e esposa e da jornalista Flávia Massua e irmã; Se não tivesse, do lado de fora da esquadra, o sempre presente Elias que se desdobrava em contactos; Se não tivesse o Zeca Fernandes a fazer outros contactos para minimizar a minha dor; Se não tivesse enviado um sms ao D.M. que no dia seguinte permitiu a devolução dos documentos... É que o polícia alegava, inicialmente, que era preciso acompanhar a evolução clínica do moto boy que na manhã do dia seguinte já andava com os próprios pés, para depois alegar que "o jovem não tem possibilidades e o chefe tem de o ajudar"! Ora essa. Ainda tentei concordar. Quem sem culpa sente a milímetros o cheiro nauseabundo da cadeia, quem fica misturado no quintal da polícia com pilha-galinhas e criminosos é capaz de aceitar uma proposta dessas para se ver livre da situação constrangedora. Mas, por sorte minha, quando me preparava para pedir dinheiro emprestado e "ajudar" o jovem ferido (via polícia), ligou-me o DM a saber da minha localização. Informei-o que estava na polícia porque ainda não me tinham devolvido os documentos, mesmo estando o jovem já fora do hospital. Desconheço as diligencias feitas pelo DM, mas só sei que aqueles que condicionavam a minha "soltura" ao pagamento de uma "coima" tinham já os lábios secos. Trocaram informações baixadas eventualmente pelo seu chefe e os documentos me foram devolvidos minutos depois. O dia já tinha mais de metade do seu tempo.

Mais do que esta narração dos três casos acidentais que tive envolvendo motorizadas, o prgunta que persiste é: por que razão as motas me perseguem?

sexta-feira, abril 13, 2012

O PERIGO DO "LUGAR COMUM"

Enquanto jornalista,
Intrigava-me, sempre que fosse a províncias, encontrar e reportar factos noticiáveis que aos olhos dos confrades locais não passavam de algo comum ou sem interesse jornalístico.

Pois, a repetição e o hábito fazem dos factos, mesmo anormais, lugares comuns ou factos normais. É isso que faz com que se desvie deles a nossa atenção que se dirige ao periférico, ou para o nada, fazendo com que na aparente ausência de factos dignos de atenção e registo, o nosso olhar se fixe na propaganda e no simplesmente lúdico.


A exemplo, temos o que mais incomoda em Luanda e em algumas outras cidades de Angola: falta de transportes públicos, grandes congestionamentos do trânsito, deficiente recolha de lixo e drenagem, elevados níveis de poeira, gritante falta de H2O e energia eléctrica, poluição sonora, vadiagem, promiscuidade, prostituição, bebedice, delinquência juvenil, desleixo e espírito "deixa andar" das autoridades policiais, transporte de pessoas em caixas de carrinhas e camiões, gente pendurada em entradas de comboios, venda em passeios e passagens superiores (pontes para peões), etc., assuntos que deveriam encher, de forma critica e pedagógica, as páginas dos nossos jornais e noticiários audiovisuais deixaram de neles fazer presença constante.
Do Kambwá

Por que será?
Tornaram-se lugares comuns. Os jornalistas coabitam todos os dias com eles. Os nossos corpos e mentes ganharam anti-corpos. Deixamos de sentir dor.
E, enquanto não despertamos, nos vamos contentando com assuntos periféricos como maratonas e danças que roçam a pornografia.

terça-feira, abril 03, 2012

MEMÓRIAS DA PAZ (10 anos depois)

Decorria o mês era Março de 2002. A missão que me fora incumbida pelo Director de informação da LAC-Luanda Antena Comrcial, Sr. José Rodrigues, era a de seguir ao Luena e reportar para o auditório da sintonia azul o que se estava a passar no terreno.
"Para o Luena já!"

Só que eram poucos os que lá podiam chegar. Voava-se pouco para o Moxico e as viagens de carro, nem pensar!

Quem mais para lá voava era o PAM- Progarma Alimentar Mundial com aviões ligeiros do tipo Beachcraft e cargueiros Antonov's.
E lembro-me, a propósito,duma anedota que de tanto o PAM fornecer milho aos carenciados angolanos no tempo da guerra, alguém ousou em perguntar a uma criança:
- Que planta dá o milho?
- É PAM, mano! - terá respondido um menino.

A minha ida ao Luena, capital do Moxico, aconteceu semanas depois da morte de Jonas Savimbi em combate. Objectivos: transmitir aos luandenses, ouvintes da LAC, que se passava no terreno, ou seja, as movimentações dos militares que procuravam a paz definitiva e a situação humanitária dos milhares de civias que saiam todos os dias das matas (os que estavam sob domínio da UNITA).

Embora tivesse feito antes deslocações em reportagens militares ( feitas em cenários de guerra presente ou recente), aquela foi a mais marcante. Não só pelo impacto que teve, mas também por ter sido quase um exclusivo para rádios privadas angolanas (a abordagem na Rádio Pública era muito formal e marcada por discursos selectos e oficiais). 
 
Edificio do Gov. Moxico
Lembro-me da dificuldade que havia em mandar "despachos" para Luanda. Havia apenas duas línhas telefónicas para ligações que fossem para fora do Luena. Enorme era a fila, e uma tentativa fracassada era suficiente para ser substitído por outra pessoa na cabine. E, pior ainda, porque havia sempre ao lado uma "toupeira" a escutar o que as pessoas diziam ao telefone. E foi nestas circuntâncias que depois de uma entrevista bem conseguida com um governante da província, minutos depois, fui abordado por agentes da polícia ligados à sede do Governo que me pediram para voltar ao local da entrevista, pois o chefe queria corrigir algumas coisas que dissera na entrevista. Perante a minha negação de que "estava a mandar o material para Luanda" os homens pediram-me então a K7 onde estavam gravadas várias entrevistas: a do governante em questão e outras feitas ao longo dos dias anteriores.
- Já mandei a entrevista toda em directo.
- Em directo quer dizer o quê?
- Quer dizer que as pessoas já ouviram e a minha direcção em Luanda já gravou o que o chefe disse.
- E assim vamos dizer o quê no chefe?
- Digam que não me viram ou que já mandei e não dá mais para recuar.

E lá se foram os homens. Até hoje fico sem saber se terão sido orientados pelo Governante ou se terá sido "meixeriquice" deles.

domingo, abril 01, 2012

DEZ PERGUNTAS AOS POLITICOS ANGOLANOS

1- Do pouco que sei e ouviu sobre a CASA do Abel Chivukuvuku, a formação assume-se como "um partido do centro. Um ponto de convergência entre os não radicais da esquerda (perdsonificada pelo Mpla) e da direita (personificada pela Unita). Haverá nestes dois partidos e outros periféricos tantos “vira Casaca” para encher a Casa de Abel?
2-      Das poucas passagens que retive até hoje de políticos da Unita uma delas foi do Paulo Lukamba” Gato” que ainda nos tempos do “aço quente”, numa entrevista sobre possíveis negociações com o governo, dizia que “A política é a arte do possível”. Quero aqui fazer uso desta tirada para questionar que possibilidade terá Abel Chivukuvuku para fazer casamentos que lhe venham a encher a casa e obter votos para chegar ao poder?
3-      Ouvi, em tempos Abílio Kamalata Numa, discursando em Benguela para seus militantes nos seguintes termos: “Se o regime ajudou a criar a casa então que case com ela e dê os seus militantes”. Até que ponto a casa afectará o MPLLA depois das deserções já criadas nas hostes do Galo Negro?
4-      E, atendendo que “a política é a arte do possível” Quererá o Partido tri-color (vermelho, preto e amarelo) buscar uma aliança com a CASA de Abel só para reduzir o Galo a “churrasco”? Pretenderá o aspirante a Presidente de Angola, Abel, aceitar um possível aceno do M que lhe pode inibir de chegar à Cidade Alta?
5-      Depois de casamentos e concubinatos já visíveis como os que unem MPLA/ND, MPLA/FNLA-NGONDA que outro(s) enlace(s) podem conhecer a nossa política nos poucos dias que faltam para o tiro de largada para as eleições?
6-      Quem dos contendores da FNLA (Ngonda e Kabango) levará a FNLA às eleições depois do que se vem passando na Assembleia Nacional e Comissão Nacional Eleitoral, onde Ngonda, apesar de ser o presidente de jure, não tem representante que lhe preste obediência?

7-      Depois de ter sobrevivido à extinção compulsiva face ao fracasso das últimas eleições em que não pôde eleger sequer um deputado, terá o PDP-ANA do finado Mfulupinga Landu Victor pernas para mais uma corrida?

8-       Quem esteve atento ao que se passou no Senegal, onde o velho Abdulaye Wade foi copiosamente derrotado na segunda volta depois de ter aparecido à frente da contagem da primeira volta, terá notado qual foi a estratégia da oposição daquele país. Unir-se em torno de um para mudar o status quo. Que cogitam os nossos actores políticos da oposição?

9-      Olhando para o M, que a meu ver vai muito bem na sua “preparação física” para a próxima "maratona", noto a ausência apenas dum assumido/declarado delfim para suceder/coadjuvar o Candidato Natural daquela formação. Até que ponto essa situação poderá ou não refrear/animar a tendência de voto para o “Glorioso”?

10-  Depois dum finca-pé entre oposição e Mpla sobre a indicação da presidente da CNE que condicionou, por outro lado, a indicação e tomada de posse dos representantes da UNITA PRS e FNLA à CNE, as últimas noticias (vindas do Parlamento e na voz de Emílio Homem à TPA) apontam para uma cedência ou desistência da oposição quanto ao finca-pé que vinham fazendo. Primeiro foi o Tristão da FNLA que decidiu retomar o seu assento na CNE onde ele e companheiros da “oposição radical” terão ficado sem ordenados (porque quem não trabalha para o povo não deve ganhar dinheiro do povo). Terá sido o não pagamento dos USD 10 mil de ordenado aos Comissários faltosos que forçou o regresso aos trabalhos?