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segunda-feira, junho 10, 2013

A CARGA PROPAGANDÍSTICA E A RESPOSTA PSICO-MOTORA

Tenho observado, com alguma preocupação, o elevado altruísmo dos nossos jornalistas quando abordam os momentos que antecedem os jogos da selecção angolana, ou se preferir, a elevação da exigência aos nossos representantes, pensando-se que no futebol tudo podemos contra quem quer que seja.
A meu ver, esse tem sido um erro crasso da nossa media audiovisual que no calor do momento e servindo-se de vozes menos avisadas da população, mais emotivas do que racionais, vão pedindo aos jogadores aquilo que as aptidões psico-motoras e técnicas não são capazes de proporcionar.
Assim foi no CAN  organizado pelo nosso país, voltamos a fazê-lo nos CAN que se lhe seguiram e agora no jogo contra o Senegal. A povo mal orientado é uma arma muito perigosa, pois deixa de raciocinar e guia-se pela emoção.
Ao pedir-se uma goleada sobre o Senegal que é de longe superior a Angola, tendo em conta o seu posicionamento no Ranking da CAF e FIFA e atendendo ainda ao nível e desenvoltura atlética dos seus executantes, caímos  mais uma vez no populismo, acabando por pedir aos futebolistas nacionais aquilo que à partida sabíamos que não era possível.
Tal atitude, repito, populista cria nos jogadores um excesso responsabilidade e nervosismo que  impossibilitam a realização de um jogo alegre e despreocupado.
No jogo contra  o Senegal, pontuável para o mundial do Brasil de 2014, Angola não jogou contra uma equipa qualquer e, embora tenha empatado em território alheio,  tal sorte não conferia à selecção nacional um hipervalor agregado para que saísse do estádio 11 de Novembro, em Luanda, com uma goleada, como se vaticinava ou se procurava insinuar através da “colocação do discurso vitorioso na boca do povo”, como o fez a rádio e a televisão públicas angolanas.
“Sonhar não é proibido", corroboro. Porém, há que impor limites ou racionalidade aos sonhos, pois nem todos os sonhos se materializam a nosso contento.

sexta-feira, junho 07, 2013

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA ELEVAÇÃO ACADÉMICA E CULTURAL DO ESTUDANTE

SUA EXCELÊNCIA…
DIGNISSIMOS ...
CAROS MEMBROS DO CORPO DOCENTE E DISCENTE
MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES
É com elevada honra que saúdo suas Excelências ...
José Caetano, Fidel Manassa e Luciano Canhanga
A vossa presença, nesta cerimónia, traduz não só a importância que é dada por vós à formação das novas gerações mas também a vontade e empenho em contribuir para a resposta aos grandes desafios que se nos colocam na luta pelo desenvolvimento, quer na vertente técnica quer na vertente cultural.
Com a permissão dos digníssimos membros da mesa de honra, gostaria que me autorizassem a endereçar os meus agradecimentos a todos os presentes a esta augusta assembleia.
Dirijo uma palavra de especial reconhecimento à direcção da Escola Superior Politécnica da Lunda Sul pelo convite que me foi endereçado, e também pela oportunidade singular,  de pronunciar algumas palavras, ainda que modestas,  neste acto que assinala a constituição formal do Núcleo de Amigos da Leitura e Literatura desta província.
Os meus parabéns, e uma salva de palmas, a todos os autores desta feliz iniciativa.
Agradeço ainda à Sociedade mineira da Catoca que tornou possível a minha presença e em especial o meu ilustre amigo, o professor e escritor Luciano Canhanga.
Por tudo o que a Lunda-Sul e a sua riqueza cultural representam para Angola, para África e para o mundo, sinto-me orgulhoso e satisfeito por estar entre vós e ser testemunha deste vosso compromisso para com o desenvolvimento  multiforme dos seres humanos.
Luciano Canhanga: Coordenador do Núcleo
Confesso que o tema escolhido para comemorar a constituição formal do Núcleo de Amigos da Leitura e Literatura da Lunda Sul, deixou-me um pouco embaraçado.
Embaraçado, porque falar da importância da leitura na elevação do nível académico de um estudante, pode parecer uma tarefa fácil, mas acaba por ser complexo por tudo aquilo que somos chamados a dizer para corresponder às expectativas de uma audiência tão distinta  e com tanto interesse, como é precisamente a áurea de convidados aqui presentes.
Se, por exemplo, invertessemos as palavras e perguntássemos qual é o nível académico dos nossos estudantes, em termos de qualidade, e conhecimentos, comparativamente a outras épocas, ou a outros países, penso que perceberíamos melhor a complexidade do nosso tema. Ou, então, se perguntássemos aos vossos professores que respondessem, ainda que em segredo, se estão ou não satisfeitos com o vosso desempenho académico?
A maioria está satisfeita? Não está satisfeita?
E quais as principais fraquezas ou pontos fortes que os estudantes apresentam?
Não quero que respondam directamente. Gostaria apenas que dissessem se mais hábitos de leitura podem contribuir, ou não, para a busca de soluções para estes desafios.
Estou certo de que fazendo este pequeno exercício, será mais fácil mostrar as inúmeros vantagens que uma leitura metódica e sistemática para trazer para a nossa formação integral, o que equivale a defender, a sua importância para o aumento dos nossos conhecimentos académicos.
Plateia na ESPL-ULAN
Acredito que falar-vos do papel que a leitura desempenha no aumento constante do nível académico de um estudante, é falar também  da importância do estudo em duas perspectivas distintas, as quais considero ser:
Por um lado, o estudo metodológico das disciplinas curriculares e;
por outro, uma segunda espécie de leitura, que chamaremos de “Paralela”, e que consiste em cultivar mais conhecimentos, por acréscimo ao currículo da nossa formação específica. 
No primeiro caso, enquadramos o aluno num grupo avançado, mas médio, e diremos que ele será  tanto mais aplicado quanto mais ler e investigar sobre os conhecimentos que o professor transmitir para a aprendizagem de um curso específico;
No segundo caso, teremos  uma aluno que ultrapassa a média geral e não se preocupa apenas em ESTUDAR PARA TRANSITAR DE CLASSE , mas que, antes pelo contrário, aumenta o seu nível de conhecimento e se preocupa em alargar a sua cultura geral a outros horizontes.
Acho que estes dois exemplos são o que nos interessa trazer em debate, hoje.  
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, no seu Vol. 10, nas páginas 36 e 37, define o Estudante como “aquele que estuda e é aplicado”, com interesse em áreas sociais e associativas. E mostra ainda que ao lado do estudante existe o ESTUDANTECO que se define como o aluno ordinário com fraco rendimento escolar.
Quando falei pela primeira vez em estudantes,  realcei o exemplo particular dos que dedicam uma percentagem das horas livres e dos momentos de lazer para investigar e aumentar conhecimentos noutras áreas da vida económica, social, cultural ou literária, através da leitura.
Antes de continuar, queria que olhássemos um pouco para o interior, a realidade, do nosso país e para aquilo que nós somos, como a principal riqueza de Angola.
Somos um país em crescimento, mas ainda pertencemos à categoria dos países subdesenvolvimentos ou em vias de desenvolvimento. Em termos de tecnologias, transformação da matéria prima, exploração e  distribuição dos recursos naturais e qualificação profissional dependemos, largamente da cooperação e da assistência estrangeira.
Somos um país soberano e politicamente independente, mas do ponto de vista do desenvolvimento científico não podemos dizer que temos hegemonia! Numa classificação de 100 países, ocupamos a 80º posição mundial, segundo o relatório das Nações Unidas sobre o desenvolvimento humano. Temos problemas básicos como o acesso e distribuição da água potável e da energia. Também temos problemas de organização social e administrativa.

J.Caetano: numa turma de Dto. Inst. Sup. Lusíada da L. Sul
O ensino em Angola está em desenvolvimento, nascem novas universidades e cresce o interesse dos jovens em adquirir uma licenciatura, mas falta-nos a excelência da qualidade, da pesquisa e da investigação.
A pergunta que eu quis fazer com esta pequena análise é a seguinte:
O que se espera e qual o perfil que um estudante deve ter, para que Angola possa reduzir esta dependência, em termos de uma maior qualificação académica dos quadros, num futuro próximo? Quais devem ser as nossas prioridades, metas e exigências no domínio do conhecimento geral?
Voltamos ao nosso tema sobre a importância, decisiva, da leitura na elevação do nível académico dos nossos estudantes.
Dissemos explicitamente que cada estudante que não lê e não se aplica no estudo, está a contribuir indirectamente para que Angola aumente a sua dependência exterior; se atrase em relação ao exterior e perca a corrida para o desenvolvimento;
Afirmamos sem receio de errar que cada estudante sem rendimento escolar, é uma pedra a menos na nossa luta contra a fome e a pobreza; é um peso contra a nossa capacidade de maior raciocínio e compreensão das politicas de desenvolvimento. Em resumo, quero dizer que uma população sem hábitos de leitura é uma população mais exposta á ignorância, à doença, às convulsões sociais , ao comportamento bizarro e a toda a esta tragédia e violência que testemunhamos através da rádio, da televisão e dos jornais.
Concluímos com as vantagens da leitura, como fonte de solução dos nossos problemas. Considero que através da leitura aprendemos novos conhecimentos e tornamos mais fácil a compreensão da nossa realidade, por mais complexa que ela seja. A leitura, como pesquisa, é meio caminho andado para  a busca de qualquer solução.  Quem tem hábitos de leitura, aprende a argumentar, corrige as suas fraquezas e melhora o seu raciocínio.
 
Muito Obrigado
José Soares caetano,
Saurimo, 06.06.2013 

sábado, junho 01, 2013

AS MISS E A DEFESA DO INDEFENSÁVEL

Estou envolvido, há já cinco anos, na organização de concursos de beleza, nomeadamente Miss municipal e provincial. Tudo o que venho assistindo nestas andanças é que se tornou prática recorrente a assistência contestar a decisão do júri quando se trate de concursos de beleza ou similares. A priori, a decisão do júri, embora não agrade a todos, é inapelável. É ao júri que cabe julgar, de forma desapaixonada e equidistante, a postura das candidatas, de acordo ao regulamento e requisitos exigidos para o efeito.
O público, embora detentor do seu juízo de valor e capacidade analítica, nem sempre está por dentro dos instrumentos reguladores e requisitos exigidos, procedendo uma análise superficial. Até porque não convive com as candidatas durante a fase de treino.
Para quem está por dentro, e saibam-no aqueles que apenas têm acesso ao momento final, é que:
1-      Trabalha-se, muitas vezes, com jovens de tudo inexperientes a quem se ensina até sentar-se á mesa e manipular os talheres (etiqueta), coisas que a Miss eleita terá de utilizar todos os dias do seu mandato e pós-mandato, mas que não são julgadas na gala de eleição.
2-      O valor intelectual/cultural é medido pelo à vontade, expressão oral e facilidade de comunicação e não apenas pelo nível académico. A classe que frequenta, por si só, não define a intelectualidade da candidata. Esse aspecto é medido pelo júri durante o contacto antes da Gala.
3-      As perguntas que as candidatas a miss respondem durante a gala de eleição são estudadas e decoradas por todas durante semanas. Logo, não e a resposta mais complexa que determina a intelectualidade.
4-      Os concursos de beleza, sejam eles municipais, provinciais, nacionais ou internacionais, não são concursos de cultura geral ou testes de aptidão académica. Por isso, nem sempre a mais escolarizada está mais à vontade ou mais habilitada a exercer o papel de miss. Os conhecimentos de cultura geral e etiqueta são para ser aplicados durante o consulado, em contactos sociais que a miss eleita vier a manter.
5-      Ter boa postura na passarelle, não se incomodar com calçado de salto alto, demonstrar simpatia permanente (sorriso sempre presente), ser cordata e bem-educada, possuir modos correctos, simplicidade e clareza na comunicação, são aspectos fundamentais para quem se candidata a figura pública. Esses aspectos não são medidos durante a gala de eleição, mas sim durante a fase de preparação e entrevistas com o júri.
6-      Para concursos de MISS, possuir 1,70m ou mais é outra das exigências a que se acresce não possuir cicatrizes e ou tatuagens em partes do corpo visíveis.
Todos esses elementos acima descritos e outros subjectivos é que servem de base para o julgamento do júri, sendo normalmente desconhecidos pela plateia/assistência que, regra geral, procede a uma avaliação parcial e emocional.
Para a assistência, um papel que qualquer um de nós já exerceu, o voto vai para a a que atestar maior escolaridade, que nem sempre é proporcional ao conhecimento e expressão oral; a que responder  a pergunta aparentemente mais complexa; a que tiver usado um vestido ou roupa interior mais ousado;  a que tiver a maquilhagem mais aprumada; a que melhor dançar em palco, etc. Logo, entre o júri, a quem se confia a missão “ingrata” de julgar, e o público assistente há sempre quem, no final do concurso, defenda o indefensável.