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quarta-feira, agosto 21, 2013

NUVEM DE POEIRA: UM PERIGO À VISTA?

Nuvem de poeira levantada por britadeiras operadas por chineses, portugueses e alguns angolanos, na Lunda Sul.
A menos de 1km da zona em que se observa a nuvem de poeira há 3 comunidades que podem ter problemas de saúde por respirarem ar poluído por partículas sólidas.
Alguém tem de bater por cima da mesa. Há vidas em risco e toda a magistratura de bons ofícios será útil, já que "quem de direito" tarda em pôr ordem.

quinta-feira, agosto 15, 2013

CHUVA E SAUDADE

Aldeia de Pedra Escrita, comuna da Munenga, Libolo, Kwanza-Sul, Angola. Maria Canhanga, minha mãe, sai da lavra.
 
- "Hoje as pernas já não ajudam muito por causa do reumatismo. Vou uma vez à lavra grande e duas à que fica próxima da aldeia (cerca de meio quilómetro apenas)".
 
Beto Spina, meu amigo e "canino confidente", foi comigo ao Libolo no sábado, 10 de Agosto. 
 
Faltavam ainda 5 dias para o início oficial da época chuvosa. O clima, como se pode ver na imagem, era húmido, de nevoeiro que prenunciava a chegada da chuva, não tarda!
 
Para matar a saudade levamos a anciã para Luanda onde os netos e filhas a aguardavam. Foi a contra gosto e dois foram os motivos: o carro não permitiu levar grande coisa do muito que gosta de carregar para presentear a família na capital. A chegada, próxima, da chuva "é período para preparar a terra".
- "Só vou se for para regressar na segunda ou terça".
 
Partimos, deixando atrás não apenas um rasto de fumo expelido pela viatura Hyundai i20, que se confundia com o nevoeiro que anunciava grãos aquosos que ensopam a terra fértil, mas também um fio de saudades que se amarra a nossas vidas.
 
E, hoje, é o dia do início oficial da nova estação. Bye, bye Cacimbo!
 

segunda-feira, agosto 12, 2013

CHUVA “MADRUGADORA” FAZ ESTRAGOS EM SAURIMO

Oficialmente, estamos ainda há 3 dias do fim do período de cacimbo (período seco que termina a 15 de Agosto), porém, ventos fortes acompanhados de chuva já se fizeram sentir em Saurimo, Lunda Sul, a 10 de Agosto, causando danos à linha de transporte de energia eléctrica da Hidro-eléctrica de Chicapa I à cidade e ainda danos consideráveis na rede de distribuição. Árvores e casas de construção precária não foram poupadas.
Parte da cidade está privada de energia eléctrica, uma situação que se pode prolongar por muitos mais dias, segundo responsáveis do sector da energia em Saurimo.
 
Ainda é só um começo precoce da chuva...
 


quinta-feira, agosto 08, 2013

DOIS MINUTOS NA ENFERMARIA DE MANDELA

Estou enfermo, na África do Sul, acompanhado pelo Beto Spina e Didi Domingos, meus dois amigos desde a adolescência. O Beto é o meu “canino” confidente e o Didi, enquanto piloto aviador, é conhecedor do país do arco-íris.
O Hospital-Hotel em que estamos alojados é o mesmo que dá tratamento ao ícone maior da tolerância africana, Nelson Mandela. É uma pena que neste momento em que escrevo essas linhas não me lembre do nome e tenho de fazer um esforço para sair e ver o letreiro. Mas, confesso, era inimaginável um hospital onde o paciente pudesse ter também alojados os seus acompanhantes. Por isso trato-o por Hospital-Hotel.
Apesar do requinte e serviços de última geração, o Hospital-Hotel é um equipamento construído e mantido por homens falíveis. Na última noite, o meu quarto-enfermaria teve uma pequena fuga de água e, na aflição, refugiei-me na enfermaria seguinte onde estava um idoso com o cabelo todo esbranquiçado. O quarto-enfermaria era simples como o meu. Havia um grande movimento no corredor. Rezas, espetáculos tradicionais que me fugiam do entendimento e muito mais. Havia também um polícia, mas algo distanciado do corredor, a quem as pessoas se dirigiam em caso de anormalidade no quarto do ancião.
- Imagine o meu espanto quando olhei para a foto que ocupava o espaço-topo da banca de cabeceira do idoso acamado?!
Era a foto de Nelson Mandela. Quase cai de susto.
- Nelson Mandela aqui? - Não quis acreditar e refiz a pergunta colocada a mim mesmo.
- Eu no hospital de Nelson Mandela?
O idoso repousava na sua cama de hospital, já sem a respiração assistida mas muito fragilizado pela idade e pela enfermidade. Tinha os olhos fechados e parecia estar no quinto sono. Mesmo assim, ousei em saudá-lo no meu torpe Inglês.
- Grand Father, good morning!
Uma voz vinda do fundo da alma, tão fraca mas cheia de vida quanto podia, respondeu-me.
- Good morning. Are you from Moza?!
Fiquei mais estupidificado ainda ao receber aquela resposta à minha saudação e, sem demora, tentei refinar o meu pobre Inglês:
- No, grand father, I´m came from Angola.
Pois isto, o ancião ergueu os olhos e respondeu-me com uma voz muito mais nítida.
- Oh, well come and not be afraid.
Engasguei-me. A frase seguinte que me saiu da boca foi em Português
- Sim, avó! - Respondi-lhe alegre.
Minha enfermidade  e minhas preocupações com o quarto que tinha infiltração de água tinham meticulosamente passado. Lembrei-me de que quando voltasse a Angola teria de me gabar do facto e peguei no telefone para gravar o resto da conversa, sem que o mais velho desse conta disso.
E, Nelson Mandela pediu-me, num Português melhor do que a minha dicção do seu Inglês, que me sentisse à vontade no seu quarto-enfermaria, indicando-me a cama ao lado que estava vaga.
- Por favor, senta neste cama e deixa mais velho dormir um cabocado.
- Thank you very much, my grand father. – Respondi-lhe felicíssimo.
Momentos depois, lá apareceu o gerente da parte hoteleira da instituição a comunicar-me sobre um novo quarto para onde haviam sido transladados os meus pertences. O homem, alto e calvo, mas de elegância e polimento incontestáveis, começou por desculpar-se pelos transtornos ao que respondi apenas com um “do not worry”.
Já com o Beto, e ao encontro do Didi que estava alojado noutro hotel, o Hill Park, contei o que vivi naquela tarde e fomos espalhando, entre os angolanos com quem cruzávamos, a minha boa nova. Uns estavam crédulos.
- É normal aqui na África do Sul um responsável estar ao lado de gente normal. - Diziam. 

Outros, entretanto, estavam um tanto ou quanto renitentes em acreditar. Foram estes que me fizeram puxar do telefone para reproduzir as últimas palavras que Mandela me dissera no seu quarto-enfermaria, antes do gerente me arranjar outro aposento.
A frase “Por favor, senta neste cama e deixa mais velho dormir um cabocado” ainda ecoava nos meus ouvidos.
Ao procurar pelo arquivo de sons gravados, o meu telefone tocou. Trim, trimmmm, trimmmmm. Era o despertador que me apelava para a hora da higiene matinal.