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sábado, novembro 15, 2014

TERRA-AR

A conversa foi curta mas não deixou de despertar a atenção aos compradores e vendedores de “mabobo”.
Terra é terra. Ar é ar. O título é súmula de uma áspera resposta recebida por um viajante por parte de uma “aero-dama”.
Marisa é mulher bem prendada em termos de atributos físicos, com as carnes a procurarem evadir-se das apertadíssimas vestes que faziam dela uma estátua concorrente àquela implantada no jardim bieno da pouca vergonha, porém mal “enxovalhada” em termos de SAC- Serviço de atendimento ao cliente.
A abordagem foi sobre a constatação do passageiro que todas as revistas de bordo colocadas nas bolsas traseiras dos assentos estavam rasgadas, sendo necessário trocá-las por outras mais decentes ou, inexistindo novas folhas com letras e fotografias, recolher aqueles deselegantes bocados que muito beliscavam a imagem da empresa detentora da aeronave e da Revista.
- Bom dia, o que o senhor vai beber?
- Vou tomar um café. A propósito, posso fazer-lhe um pedido?
- Sim. - Respondeu lacónica e já com o sobrolho carregado.
O passageiro sacou da bolsa da cadeira do avião pedaços da revista e colocou-os por cima da mesa.
- Pois é. Noto que em quase todos os assentos a situação é essa. É possível trocá-las?
- eu senhor, são crianças que viajam no avião quem fazem isso. - O tom de Marisa subia à medida que o semblante viajava do desanimado para preocupante.
O passageiro procura identificar-se como funcionário sénior da empresa dona do avião operado pela companhia em que Marisa trabalha.
-Já dei instruções aos meus colegas para vos fornecer mais material de leitura a bordo. Bastará pedir ao nosso departamento administrativo, vosso interlocutor na gestão da aeronave. É possível retirar esses pedaços e depois colocar novas revistas? – Emendou.
- Meu senhor, isso é com o pessoal de terra.
Nem mais nem menos, a jovem mulher, indelicadamente destrancou o carrinho com sumos, refrigerantes, água e cafés e pôs-se a fresco.
“Terra é terra. Aqui é ar. Nossa empresa é assim”, pus-me a pensar na resposta recebida, tentando digeri-la com dois goles de água que ganharam um sabor envinagrado.
- E como encontrar o pessoal de terra se são as moças aéreas que me atendem sempre que entro no avião?
Senti vontade de inverter os papéis e dar-lhe resposta homóloga e ver se a engoliria com a mesma facilidade como ma impôs.
Não sendo essa a minha escola, preferi descontar no papel a incómoda resposta e recomendar às aeromoças do meus pais mais formação sobre atendimento e satisfação do cliente. “Um bom ouvido e uma boa resposta, ainda que vazia de conteúdo prático, acalentam almas”- lembrei-me das lições da professora Lozano. Um mau serviço afecta negativamente o produto que vem agregado ao serviço, mesmo que o primeiro seja processado com a mais incomum das perícias e tecnologias.
Acordei do sono e do sonho. Era já hora de poiso.

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