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quinta-feira, janeiro 15, 2015

REGRESSO À VIDA "PROLETÁRIA"


Com esse agravar da vida que se aprimora, dia após dia, com os discursos políticos e económicos todos direccionados à contenção de gastos e poupança,

Com a crise financeira que estamos com ela instalada nos nosso bolsos e fogões, poupando os burgueses, mas depauperando a “pequena-burguesia” que nos dias de hoje não passa de uma classe média-baixa, vou ensaiando medidas de austeridade que, espero, ajudem a atravessar o longo deserto que se vislumbra adiante e que pode conflituar com os hábitos de consumo instalados em muitos lares.

Pensei no regresso da "kandimba" para medir o arroz e no copo de "reco-reco" para o açúcar; na recolha da palha da serração (restos de madeira) para compensar o carvão e o gás; recorrer às escolas e universidade pública (quanto dói fazer ver o filho a fazer o propedêutico e o teste e ficar sem o nome na lista dos apurados por falta de “empurrão”?) em vez dos colégios e o recurso aos autocarros em vez de táxi e carro próprio para a digníssima.

Fiz uma lista de onde cortar ou poupar e rezava:

Corte no gás: a razão é que nos tempos da “pequena-burguesia” instalada na pós-ditadura do proletariado, a água fervia cerca de três horas, mesmo se sabendo que ela entra em ebulição aos 100 graus centígrados. A canalizada tarda em chegar e mesmo que a tivesse, conta-se, que não se recomenda ao estômago urbanizado.

Corte na comida: cheguei à conclusão que mais comida vai ao lixo do que ao estômago (em minha e muitas casas). Basta ver quão repletas andam as lixeiras e quão gordinhos andam os ngulus desgovernados. No natal, por exemplo, até o cão rafeiro de casa negou-se a comer carne. Apenas as galinhas estavam com os dias contados por causa das cabidelas diárias. Medir o arroz, o açúcar, o chá, o leite, e etc. seria um caminho para a poupança.

Corte nos combustíveis: aqui a coisa ficou complicada pois os autocarros de transporte público urbano e peri-urbano há muito se demitiram da sua função. A empresa distribuidora de energia, mesmo refundada, ainda não deu ar de sua graça e a luz continua no pisca-pisca forçando o gerador a gemer todas as noites. Mas sempre se encontram oportunidades de melhorias como desligar o gerador à meia-noite e a Senhora deixar de usar o carro aos fins-de-semana.

Corte nos gastos com educação: argumentei que toda a minha trajectória foi feita no ensino Público e quando mudei para a privada era já em “segunda agregação” e em tempo de vacas nutridas. Todos que iniciassem um novo nível deviam ingressar numa escola ou universidade pública, beneficiando, enquanto ainda der, de uma preparação propedêutica, se necessário.

Corte nas “kapurenquanto”: essa rubrica foi-me imposta mas arguiu que não precisava de fazer parte da lista por ser uma rubrica há muito extinta.

Apresentada a lista ao conselho de família, os filhos reclamaram que estavam a ser despromovidos. Acusaram-me de antiquado e de estar a igualá-los com quem não disseram. A mulher apresentou igualmente as suas objeções.

- Casa sem energia à meia-noite é escura e propensa a intrusões. Fim-de-semana sem carro é doloroso e mais. As vizinhas acabam confundindo poupança com desgraça. Filhos sem colégio deixam de ter amigos recomendáveis e se tornam rafeiros (?), argumentou a digníssima chefe do poder executivo caseiro.

Sem os argumentos traduzidos em factos, vou agora procurar por uma consultoria financeira ou por uma escola de formação para levar a família a reaprender a vida "proletária" que se avizinha com o "derrube" das vivências "pequeno-burguesas" que se foram instalando no kubico nos últimos anos de vivência folgada da economia petro-diamantífera. Tem de se voltar às origens!

Obs: adaptado e publicado no Semanário Angolense, de 24.01.2015, sob título "Plano Samanjata para a crise"

 

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