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sábado, fevereiro 28, 2015

À BEIRA-MAR, BUSCANDO POR KAMUXIBA

Kamuxiba
Hoje começo com um pedido clemência aos antropólogos angolanos e busco harmonização do percurso etimológico do lexema supra.
Não sei se haverá entre os bakongu, donos da "zanga" (parece que a Samba era de Ngola ao contrário da ilha que era a casa de tesouro de Ntotila), vocábulo cuja raiz esteja na origem de kamuxiba. Por isso, vou divagar em kimbundu.
Muxiba=pelanca, carne flácida e ou imprópria para consumo, veia, (também extensivo à) canal de irrigação/desaguadouro.
Tal leva-me a deduzir que terá havido na área um canal fluvial desaguando sobre o grande "kalunga-lwiji", sendo ka=diminutivo e Muxiba=veia ou canal irrigador/desaguador.
Outra hipótese leva-me à existência de um povoado Muxiba (?), sendo os pescadores ou primeiros habitantes da praia pesqueira de Kamuxiba, em Luanda, originários de tal agrupamento populacional de  Muxiba.
Aqui, kamuxiba seria corruptela de "mukwa Muxiba" ou "akwa Muxiba" (originário/originários de Muxiba).
Convido os actuais akwa Muxiba e os ana-a-Zanga, vizinhos, aí no istmo, para darem consistência a mais uma divagação dum mukwa Lubolu.

segunda-feira, fevereiro 23, 2015

DIVAGANDO PERDIDO NAS MARGENS DO LONGA

Conta a lenda que:
Duas manas, Kimone e Samba, nascidas nas terras banhadas pelas águas do Lukala e Kwanza, lá pelas bandas de Kakulu nyi Kabasa, decidiram distanciar-se e constituírem os seus impérios lactifundiários. Kimone correu em direcção à rota do sol e fixou-se no médio Kwanza. Samba foi para sul e encontrou terra e sossego entre os rios Longa e Nyiha.
Depois de muito tempo, Kimone foi à procura da irmã e lá permaneceu muito tempo até afogar a saudade.
De regresso à casa, quando perguntada sobre "onde estivera todo aquele tempo", respondeu:
- Ngwe(nde)le kumona ipala kya Samba (fui ver o rosto de Samba).
De lá em diante, a terra conquistada por Samba ficou conhecida por Kipala-kya-Samba (Kibala).
Um dos sítios em que Kimone descansara ficou registado com seu nome, também até hoje. Antes da vila da Kibala está a aldeia de Kimone.
O templo da Igreja Metodista Unida da aldeia de Kimone é Boa Esperança.

segunda-feira, fevereiro 16, 2015

"BO-KO-A-RAM" NA NOITE DO TIRA TUDO


Numa dessas raiv´s que os novos fidalgos vão organizando aos fins-de-semana, tentando impor uma vida importada, perante os olhares furtivos dos país que tudo podem e fazem, dançava-se e bebia-se perdidamente.
As cerca de cem almas que trocavam salivas e sêmenes naquela cave insonorizada pareciam ter recomposto e trazido à terra de Ngola as famigeradas cidades de Sodoma e Gomorra dos imemoriais tempos babilónicos.
“Me esfrega, possui-me toda.” Gritava a música, ao que as miúdas acompanhavam em gestos grotescos e animalescos, ora com pares, ora com o pilar másculo de betão que suporta a laje do edifício de catorze andares pós-chão.
Tocou-se depois o “me lambe” e trocaram salivas. Literalmente.
Quando a festa parecia ter atingido o auge, já na habitual hora do banho e da eleição da “mais recortada”, o organizador lembrou-se da ausência do trio convidado para júri.
Já meio mundo estava em peças minúsculas. Era, afinal de contas, a noite do tira tudo. A festa estava repleta de filhos de quem conjugava os verbos ter e poder.
- DJ, pára a música, por favor. Só meio minuto. – Falou alto ao microfone, o organizador da raiv.
- Alguém viu os membros do júri? – Questionou, meio preocupado.
O tom, meio aflito teve interpretações várias. Uns pensaram que não haveria o desfile da "mais recortada" que habitualmente é posta a leilão quando não é a própria que sobre à montra para a “noite do forever”. Outros pensaram ser mais uma brincadeira do Man-Nelito, o organizador, que voltou a servir-se do microfone.
- Cadê o júri, people?
- Bokwaram.- Respondeu um dos assistentes escondido à porta de escape.
O som "bo-kw-a-ram", ressonado em eco, trouxe-lhes á memória um grupo que espalha terror por um apaís da África subsariana, exportador de petróleo.
- Bo-ku-a-ram?! Foda-se! - Lengwenu!
E foi debandada. Ninguém mais se lembrou das roupas, inicialmente curtas, curtinhas, íntimas e posteriormente inexistentes nos corpos ciciosos. O entornar dos candelabros e copos de whisky fez do espaço um autêntico campo de pólvora. Tudo foi aos ares.
Quando a polícia e os bombeiros chegaram ao local para confirmar o mujimbo e apagar as cinzas, só encontraram gente nua, cá fora, e fogo consumindo odores orgiásticos, lá dentro.
- Quê que foi então?- Indagou o chefe da patrulha, perante aquele estranho ambiente encontrado ao redor do edifício em chamas.
- Bokwaram, kota. Bokwaram! - Respondeu Man-Nelito, ainda assustado e desolado.
- Boko Haram? Merda, pá! Cava daqui!- Ordenou o intendente à sua tropa.
O wion, wion, das patrulhas bateu em retirada, enquanto as chamas lavravam a cave e o edifício acima.
E, fez-se silêncio na capital que parecia correr apressadamente para o século XXIII!


Obs: texto adaptado e publicado no Semanário Angolense, 07.02.2015

terça-feira, fevereiro 10, 2015

UMA PARAGEM NO BAR DO OLÍMPIO


Reza a história (recurso à combinação entre oralidade e vestígios de escrita) que um mestiço cabo-verdiano entendeu construir uma pousada na rota entre Dondo e Kibala, estrada nacional 120. E fê-lo exactamente a quatro quilómetros do rio Longa que separa os municípios do Libolo e Kibala. O ano da construção está perdido na memória, mas ainda por aí estão (Evaristo Katimba da aldeia de Bango de Kuteka é um deles) os que participaram da construção do imóvel, cuja parte frontal foi poupada pela guerra. Dizem ter sido nos anos sessenta do século XX.

Olímpio de seu nome, assim também se chama(va) o seu herdeiro que dirigiu a pousada nos anos oitenta e noventa do século passado, entendeu publicitar o seu investimento e escolheu a maior pedra daquele troço.

A dez quilómetros de Lususu, onde ergueu a pousada, encontrou uma grande pedra, do lado esquerdo de quem trafega no sentido Dondo-Kibala. Com audácia e engenho, os homens pegaram em tinta e pincéis e gravaram a meio do pedregulho que deve medir uns trinta ou mais metros de altura:

“Lussusso

Estalagem Boa Viagem”

De lá para cá, quer a pedra quer a aldeia que emergiu nas redondezas do já quase monumento, nos anos oitenta, são tratados por “Pedra Escrita”.

A estalagem de que só resta a parte do restaurante, pois os aposentos traseiros não foram poupados pela acção devastadora do tempo e sabotagem casada com a guerra civil, é conhecida por “Bar do Olímpio”.

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

PÂNICO NO CAMPO

- Sô "laine", avisa "no" mister "árbito" que os "pipo" bokwaram no campo. - Alertou  o polícia estrangeiro, em serviço no asseguramento do evento, que era conterrâneo do line que assistia o jogo.
- Hei, mister refree, they bokw'aram on the grass. - Informou o line ao seu chefe de equipa, dando-o conta da invasão da cabeceira do campo por adeptos da equipa adversária fugidos dum bombardeamento "garrafístico" em Mal há bo.
- Fucken! Bokw'aram here? Oh my god?! - Atirou o árbitro.
- Yes, até já me garrafaram no ngwimbu e nas kinama! Tipo estão a vir também de "elicópto" para nos porradar.
- My father, bokw'aram coming with helice? Stop the game. No, no mor shut! 


Nota: apontamento surrealístico.

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

YOTAMBWILE UKULU IXI YETU

"Kinjangu ajitambula, mata ene axala nawo!"
O nosso país tinha sido recebido há muito tempo. Tinham recolhido as catanas mas eles com as armas continuaram (música revolucionária de Joy Artur).
Há 54 anos, "os heróis quebraram as algemas para vencer o colonialismo e criar uma Angola renovada" (trecho do hino do MPLA).
Foi o (re)começo de uma caminhada decisiva que culminaria a 11.11.1975, na Praça da independência, onde Man-Guxi viria, "em nome do comité central do MPLA e do povo angolano", a proclamar, "perante a África e o mundo, a independência de Angola".