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sábado, agosto 01, 2015

OS MANGONHEIROS DE SERVIÇO

Ouvi, em tempos, alguém a gabar-se do facto de ser um "mafioso" no trabalho.

- "Eu sou um mafioso e ninguém me aguenta". - Gabava-se.
Não que estivesse ligado a uma organização criminosa, uma máfia ou coisa parecida. Reportava-se ao facto de ser um funcionário descomprometido com o trabalho, violador do código de deontologia do Funcionário Público.

Dizia ele que faltava ao serviço sempre que quisesse, que inventava óbitos e doenças para não trabalhar e que conhecia, inclusive, uma rede de falsificadores de documentos que lhe passava as receitas médicas e os boletins de falecimento, com os quais justificava as inúmeras faltas (pois estava mais ausente do que ausente) que lhe eram marcadas. E gabava-se ainda o individuo que "o chefe é meu "panco" (cúmplice), pois fechava os olhos aos seus desacatos e desleixos para com a actividade profissional. Era um homem que conjugava, vezes sem conta, o verbo faltar.

- Eu falto sempre que quiser e ninguém me penaliza. - Gabava-se, ao mesmo tempo que infectava os demais colegas com o seu vírus da indisciplina.

Há ainda os useiros e vezeiros na conjugação da forma negativa do verbo fazer. Não faço. Embora sejam corpos presentes no local de prestação de serviço, esquivam-se sempre das tarefas. Se as fazem não com o esmero necessário e esperado. Estão apenas para assinar o livro de frequências (ponto) e esperar pelo ordenado. Têm sempre um parente ou um amigo enfermo por visitar em hora de trabalho. Nas reuniões nunca contribuem de forma a melhorar as ideias expostas pelos colegas mas estão de boca sempre pronta para lançar críticas ao trabalho realizado pelos outros. Aos seus líderes levam problemas mas nunca apresentam soluções. Estão sempre à mão quando é para transmitir energia negativa. São recolectores de infelicidade que transportam e distribuem pelos colegas. Em conversas sobre a apatia que se instala nas instituições omitem as experiências positivas doutros Departamentos, trazendo apenas os exemplos mal conseguidos, como se o anormal fosse a regra.

- Chefe, não é só aqui, ali também é assim. – Dizem, como se desta forma estivessem a contribuir para transformar a instituição e o país.

Uma minha ex-colega de formação gostava de enfeitar a boca com o termo "eu sou filha de fulano de tal" e por isso ninguém me penaliza. Também não assistia as aulas, mas no final do semestre ou do ano lectivo passava a vida a reclamar dos professores afirmando que os mestres tinham sido maus para com ela. Calculo que no trabalho ela continue a conjugar o verbo ser (fidalgo) e a reclamar dos responsáveis sempre que a avaliação do seu desempenho corresponda àquilo que não faz durante o ano. A minha ex-colega, fruto do facto de ser fidalga, também gostava de conjugar o verbo ter. – Eu tenho influências e, por isso, ainda que não estude, ninguém me pode reprovar. – Afirm,ava de boca cheia.

Hoje, estará igualmente a dizer que tem influências e, ainda que falte ou que não trabalhe, ninguém a pode penalizar ou responsabilizar pelo incumprimento dos seus deveres.

Certa vez, quando estávamos a estagiar numa empresa, veio à baila uma conversa sobre o comportamento no local de trabalho, com realce para o cumprimento dos deveres e a reclamação ou usufruto dos direitos.

A minha colega, cujo nome omito, dizia, de boca cheia, que procurava mais por um salário do que por um emprego. Um dos colegas que não deixava conversas azedas para o dia seguinte enfrentou-a nos seguintes termos:

- Jaja, perdeste o teu tempo na formação para ser uma lesma no serviço? Se for para fingires que trabalhas ou apenas para mostrares aos vizinhos que tens um emprego, monta uma barraca em frente à porta de casa e faz negócios. Sendo tu mesma a patroa, apenas as tuas necessidades financeiras te obrigarão ou não a te desempenhares com maior acuidade. Como te podes orgulhar em ficar oito horas no trabalho em vez de trabalhares oito horas? – Questionou o Dito, conhecido como "O Bombeiro Diligente" por seu pau pra toda obra, sempre motivado e sorridente, fazendo as coisas com perfeccionismo, precisao e celeridade.

Ainda bem que  o meu leitor se escusa em ser pregador de maus exemplos, pois sabe que em todas as situações, domésticas ou laborais, há sempre quem tenha menos do que nós e que vive feliz, apesar das dificuldades. O meu leitor, tenho certeza, é dos que espalham sorrisos por onde passa, planta alegria e colhe bons resultados profissionais.

Na sua instituição, é dos primeiros a entrar e dos últimos a sair, depois de um dia sempre produtivo e inovador, valendo-lhe, por isso, uma boa carreira e reputação. O meu leitor é daqueles que conjuga o verbo agir, servindo-se do equilíbrio nas suas posições, respeitando as pessoas e as normas instituídas. É dos que se colocou, à partida, uma pergunta a si mesmo e cuja resposta é fornecida pelas suas acções diárias:

- Como quero ser lembrado(a), no futuro, pelas pessoas com quem lido ou que passarem por cá e ouvirem falar sobre mim?

A resposta define a estrada que vai construindo no seu dia-a-dia.

Nota: text5o publicado no Semanário Angolense de 01.08.2015

 

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