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sábado, julho 15, 2017

APANHEM O ANTI-MOTIM

Oliver Ngoma, músico gabonês de feliz memória, apresentava-se em palco com um casaco preto, com ou sem mangas. O "casaco Oliver Ngoma" tinha sido uma febre entre a juventude de Luanda e de outras paragens angolanas. Eu tinha votado nas eleições de Setembro de 1992, um jovem portanto.
 
As antigas TGFA tinham uma farda malhada, distinta entre os uniformes militares usados pelas FAPLA. Foi uma dessas camisas que, sendo alfaiate, adaptei um "Oliver Ngoma" sem mangas. A escassez aguça o engenho. Não tinha meios para comprar um "origon". Desmanchei-o e voltei a costurá-lo, invertendo as faces: a malhada que mostrava as características típicas de uniforme militar ficou por baixo. A simplesmente verde ficou por cima. Os bolsos eram todos cheios. Dava gozo usá-lo por cima de uma tshirt.
 
No defeso de 1993 fiz-me à aldeia de Pedra Escrita. Os kwaca do bairro viram o meu Oliver Ngoma estendido e descobriram que tinha sido uma peça adaptada de uniforme militar.
 
- Esse gajo é anti-motim. - Sabularam em Umbundu, esquecendo-se que a minha mãe percebia e experimentava aquela língua nacional, dado o convívio prolongado com os falantes da mesma.
 
Quando foram para "rusgar" o casaco e o dono, a peça já se encontrava enterrada, sem o meu conhecimento. Doeu perdê-lo. Tinha me consumido várias horas de labor na OLIVA 50 do tio Ramos Ngunza Mungongo, em Luanda. Não foi fácil desmanchar todas as peças e as recompor. Porém, a minha mãe salvou-me do "subterfúgio contundente" de que andavam a procura para me "despacharem" ou torturarem. Era no tempo em que o chefe máximo dos kwaca gritava a todos os ventos que "os anti-motim estavam a apanhar no focinho".
 
Terá sido a última peripécia. Foi subindo a idade e a responsabilidade para com a própria vida. Dai em diante, o meu combate passou a ser político, na Jota do Rangel, contribuindo na desacreditação dos "homens da guerra". Enquanto jornalista, anos mais tarde, fiz algumas amizades com militantes esclarecidos daquela formação política, porém, os factos vividos mantêm-se intactos na memória e cada um que saiba e queira lê-los pode daqui tirar suas ilações.
Guerra jamais!

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